Daniel Campos

Imprimir Enviar para amigo
10/06/2010 - Capítulo 28

O pior dos castigos

Todos voltam satisfeitos para casa depois de passarem boa parte do dia no evento beneficente do centro espírita comandado por dona Valentina. Nem mesmo o fato de ter encontrado a cunhada Alicia esparramada e bêbada no sofá de sua casa, e o filho dela brincando com sua coleção de livros jurídicos, abalaram o humor de Sebastian. Um novo tempo parecia ter começado. E mesmo não querendo se encher de esperanças, ele, no fundo de suas crenças, acreditava que Jhaver havia dado uma trégua em sua onda de castigos. E melhor: que poderia revogar sua punição.

Ele sobe ao quarto para descansar. Quem sabe dormir ou ver um pouco de televisão. Mas antes passa no quarto de Tomás para testemunhar a evolução musical do menino que finalmente foi matriculado em uma escola de música. O caçula da casa havia ensaiado a música preferida de seu padrasto. Micaela também fez parte da apresentação. Ficou no vocal. Mesmo não gostando de cantar, tinha uma voz bonita e afinada. Formavam uma bela dupla. Uma dupla que, espontaneamente, queria agradecer à mudança de Sebastian.

A canção, bastante romântica, levou o promotor a dançar com Malena pelo quarto apertado. Muitos aplausos, risos e um beijo apaixonado, ovacionado pelos jovens artistas. Dona Valentina, que permaneceu no centro, precisava ver aquele clima de harmonia que há muito não se manifestava naquela casa. Alicia, embriagada, e o filho, atentado, ficaram aos cuidados de Tita. Embalado pelo clima de romance, Sebastian adentrou seu quarto levando sua bem amada nos braços.

Mas ao passar pela porta, Malena sentiu um choque estranho e despropositado, como se algo atravessasse seu corpo. Desde então, seu humor mudou a ponto de espernear para descer dos braços do marido e se recusar a namorar. Diz que não está boa, que precisa dormir. Pensando se tratar dos distúrbios emocionais provocados pela gravidez, o promotor tenta entender aquele ataque de nervos. Carinhosamente, deita-se ao lado da mulher. No entanto, ela dá as costas para ele cobrindo toda a cabeça com um lençol.

Sem sono, acompanha um filme na televisão. Seu telefone celular toca. Levanta-se correndo para atender no intuito de não atrapalhar o sono de Malena. Para não despertá-la naquele estado de ódio em que se encontra vai conversar em outro lugar, ou melhor, no quarto ao lado, devidamente preparado para receber o futuro bebê. Um berço, uma poltrona, um tapete e vários bichinhos de pelúcia espalhados pelo ambiente. No telefone, a pequena Susana. Havia ligado escondido da mãe porque queria avisar Sebastian sobre algo muito ruim que estava prestes a acontecer. A menina chegava a chorar do outro lado da linha e o promotor tentava acalmá-la.

Nisso, entra Malena esbravejando, acusando Sebastian de falar com uma possível amante. Ele diz que não é nada disso. Num drama nervoso, diz que ele tem vergonha dela, que não gosta mais de seu corpo porque está gorda, que perdeu o interesse em amá-la. O promotor avisa que se trata de Susana. Ela pergunta se ele agora é pedófilo, se não respeita nem o quarto de seu filho ou se tem fantasias eróticas em quartos de bebê. Malena está fora de si. Sebastian insiste que Susana só queria lhe avisar de coisas estranhas que os rondam. Ela pega o telefone e não há mais ninguém do outro lado da linha. A menina havia desligado. É o suficiente para ela chamar Sebastian de mentiroso, de tarado, de traidor.

Sem controle, ela começa a quebrar coisas do quarto do filho. Sebastian tenta segurá-la, mas ela esperneia. Ele tenta se concentrar para chamar ajuda espiritual e, até mesmo rezar, mas ninguém aparece ou lhe socorre. Micaela e Tomás entram no quarto e estranham aquela cena. Tudo estava tão bem minutos atrás. Malena grita ensandecida, expulsando o marido de casa. O telefone toca novamente, é Susana preocupada com o acontecido. Micaela pega o celular, que está sobre a cômoda, mas a mãe avança sobre o aparelho e o atira contra a parede. Em outro golpe de violência, joga um porta-retrato com uma foto de sua barriga à mostra contra o rosto de Sebastian, provocando um corte.

Micaela grita falando que era Susana ao telefone. E Malena, furiosa, pergunta a filha se ela sabe por que Sebastian está tão próximo da menina. Afinal, por que ele está tão e gentil com as crianças em geral. Será que o homem sem paciência e de cara fechada dos últimos tempos mudou da noite para o dia ou será que ele tem segundas, terceiras, quartas intenções? Ressalta que não irá estranhar quando o marido confessar que Susana é sua filha ou que é apaixonado por ela, a ponto de se casar com ela na igreja de São Miguel Arcanjo. O padrasto chora em silêncio. Os meninos se desesperam.

Micaela pede para Sebastian sair do quarto na tentativa de acalmar a mãe. Ele vê que não há mais nada a fazer senão atender ao pedido da menina. Malena vê os dois próximos e os separa com os braços. Berra para o promotor ficar longe de sua filha, que ela não vai permitir que ele abuse dela. O clima beira à insanidade. Sebastian vai ao banheiro, lava o rosto, coloca um curativo rápido e desce. Sua intenção é ir ao centro espírita em busca de ajuda. Ao menos, sem ele no quarto, os gritos cessam. Desnorteado, esquece de pegar um celular reserva.

Ao chegar à garagem é surpreendido por Alicia, que, seminua, o agarra num beijo forçado. Ele tenta afastá-la, mas ela insiste em continuar beijando-o. Tita vê a cena consternada. Sebastian empurra a cunhada, que fica caída ao chão. Não se levanta mais. Parece desacordada. Abre o portão e acelera como um louco. Em uma rua sem movimento, encosta o carro no passeio, esmurra o volante e chora como criança. Quer voltar para casa, mas não tem coragem de saber no que se transformou seu domingo ameno.

Então, pensa em ligar para Susana. Mas não trouxe seu aparelho telefônico, tampouco carteira para comprar um cartão telefônico. Ir até a casa dela pode assustar a mãe e fazer a menina pagar por tentar lhe ajudar. Olha para o banco de trás e vê que Micaela esqueceu sua bolsa ali. Com certeza o celular da menina está ali. Não gosta de mexer nas coisas alheias, mas não tem jeito. Além do mais só iria pegar o telefone. Mas quando abre a bolsa, choca-se com o que vê.

Cigarros, preservativos sexuais, um punhal e folhas de papel com desenhos de cruzes e mensagens mórbidas. Em sua agenda, relatos de uma vida em crise, queixas do clima familiar pesado, aflições de um amor juvenil não correspondido, saudades de um pai ausente. Segundo a menina, seus dias na Terra estavam por um fio. Não conseguiu achar seu mundo. Considerava-se feia, estranha demais. Confissões de exclusão em casa e na escola. Imediatamente Sebastian lembra-se do que Jhaver lhe falou sobre vampirismo.

As ligações para Susana são encaminhadas à caixa postal. Liga para casa e Tita lhe pergunta como ele teve coragem de fazer uma coisa daquela com Malena, traí-la com a própria irmã e depois matá-la. Ele pede para falar com Micaela e ela desliga o telefone na cara dele. Ele liga novamente e a despede por telefone. Ela o manda calar a boca, pois agora o tem nas mãos. E ela desliga outra vez. Sebastian acelera para o centro espírita e tem sorte de encontrar o pessoal no portão, já se despedindo, com sorrisos que ele, infelizmente teria de desmanchar.

Desce engasgado, abraça Valentina e chora. Ela e Gastón entram com o promotor no centro. Depois de ouvir da boca do genro os últimos acontecimentos, aquela senhora de olhos pacientes diz que Jhaver, como era de se esperar, não cumpriu a trégua que prometera. Sebastian quer falar com o anjo castigador. Todos dão as mãos e se concentram, mas o canal de comunicação com os espíritos parece ter se fechado, ao menos, por hoje. Valentina pede que ele fique com o médium enquanto ela vai para casa ver como estão às coisas por lá. Não é bom que cheguem juntos. Isso pode irritar ainda mais Malena.

Depois que Valentina sai, num táxi, Sebastian mostra a bolsa de Micaela para Gastón. Não teve coragem de mostrar para a avó da menina. O médium tem uma espécie de vertigem e diz que dona Valentina corre perigo, que é melhor eles irem para lá também. Folheando o diário encontram várias fotos de Valentina rabiscadas. O médium alerta para o fato de que o vampirismo deixa a pessoa totalmente refém dos espíritos que a sugam. E Valentina incomoda muito os planos dos umbralinos.

Preocupado com o fato de Sebastian não ter mostrado essas coisas à sogra, diz que precisa tomar umas providências ainda hoje no que se refere a essa questão. Ligam para Valentina que não atende as chamadas. Quando chegam em casa estranham a escuridão. Não há mais vestígios de Alicia, o sobrinho e Tita. Todos parecem ter desaparecido de lá.

Eles procuram por Valentina e a encontram dormindo no quarto de Micaela, que diz que deu um remedinho para a avó que chegou muito nervosa. Remédio ou veneno? Fica a dúvida. Tomás está em seu quarto, também no escuro e de olhos fechados. O médium estranha aquele sono repentino depois do cenário tão agitado descrito por Sebastian.

Enquanto Gastón tenta despertar Valentina, o promotor vai ao seu quarto, ver como está Malena.

Ao abrir a porta, vê a mulher dormindo nos braços de Hernández.

Sebastian está diante de seu pior castigo, ou melhor, do início dele.

Observação do autor: Como de costume, o próximo capítulo será públicado na terça-feira (15/6). Até lá!


Comentários

Nenhum comentário.


Escreva um comentário

Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.

voltar