Daniel Campos

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28/03/2010 - Bingo, hoje é domingo

Bingo, hoje é domingo. Pelas ruas há uma multidão se cumprimentando, se falando, se beijando e até mesmo se amando somente porque hoje é domingo. As madames vão almoçar em restaurantes grã-finos. Os charlatões contabilizam os golpes da semana. O jardineiro tira folga enquanto espia a floração do jardim da vizinha. A mama faz aquela macorranada com bastante molho. Os padres repetem a mesma homilia ao longo de um dia repleto de missas. Os preguiçosos deitam à frente da televisão. Os bêbados encontram justificativa para uma cervejinha a mais. Os pais se esquecem da idade e brincam com as crianças. E os apaixonados vão ao cinema estalar beijos de pipoca.

Os rádios cantam, os pássaros cantam, as crianças, os adultos, os velhos cantam... aliás, todos cantam a felicidade de um dia incomum. Afinal, o domingo se difere de todos os outros dias da semana. É um dia onde o relógio é secundário. Não se tem obrigatoriamente horários para acordar, almoçar, banhar, soltar pipa. Bingo, hoje é domingo. Há quem ainda durma. Há quem passei com o cachorro pelas calçadas do quarteirão. Há quem deseje um frango assado daquelas máquinas de porta de bar. Há quem passe o dia de pijama e quem se enfeite dos pés à cabeça. Domingo, dia de se internar em um bom ninho e de externar sentidos à vida.

Tudo parece ter mais cor no dia de hoje. E são tantos planos e motivações passando pelos corações e pelas cabeças dos domingueiros. A mente fica mais amena, o corpo se anima e tudo parece possível num dia de domingo. Há quem opte pelo esporte, do futebol aos veleiros. Há quem passeie de bicicleta pelo parque. Há quem faça uma rápida incursão ao campo. Há quem decida pescar mesmo com a certeza de que não vai pegar uma manjubinha sequer. Há quem surfe em ondas de mar ou de areia. Há quem conte histórias da juventude ou do futuro que ainda não nasceu. Bingo, hoje é domingo.

Há de um tudo no dia de hoje. Não há espaço para limites ou regras. Cada um tem o direito de inventar o programa que quiser para o seu domingo. Hoje é um dia sem patrões, sem intervenções... um dia para se gozar a mais perfeita liberdade. Um dia onde o tudo se faz e refaz no nada. Um dia propício a casamentos e núpcias, batizados e festejos, encontros e reencontros. Há um contentamento mais que contente, porque hoje é domingo. Há um desequilíbrio nos céus, porque hoje é domingo. Há uma loucura coletiva, porque hoje é domingo. Há uma velha a vencer a solidão e o cansaço quando grita numa casa de jogos: bingo, hoje é domingo.


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