Daniel Campos

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09/02/2016 - Bethânia de todos nós

Maria Bethânia é emoção, beleza, força, encantaria e devoção. É um pranto de lavar corpo e alma de uma só vez e com tal intensidade que mesmo aqui já traz saudade. É a mistura de Oyá, Iansã, Santa Barbará, São João, Menino Deus e Nossa Senhora da Purificação. Bethânia é água de cachoeira que nos banha por completo e ao mesmo tempo é fogueira que fala o dialeto de quem ama e se faz chama. Explode sentimento, Bethânia é lâmina que corta como raio, trovão que a todos cala e a porta da imaginação. Bethânia, Maria Bethânia, é a tradução daquilo que de fato nos importa. Bethânia é tão nossa, como uma oração, é a bossa da fé, é o poder latente e onipresente da fantasia, da sedução, da encenação da verdade. Palco de todos os palcos, Bethânia é ato contínuo, o impacto da perfeição, o pacto com uma outra realidade, quiçá a ponte com uma outra dimensão que é amanhã, hoje e ontem ao mesmo instante. Sempre, e para sempre vibrante, Bethânia me arrepia, me extasia, me contagia e me excita numa mais que completa poesia. Bonita em uma singeleza que se transforma e se agiganta, canta, canta flor incandescente de Bethânia. Do ventre para o palco, fazendo do parto um abrir de cortinas, Bethânia é rio que não passa, palhaço que não é só graça, mas também o choro que se avista ou não, mas que se sente presente e arrebatador como num refrão. É Maria, é Bethânia, é carcará, abelha rainha, fera ferida, a lida constante e vibrante do artista. É a vista que olha pra dentro, coração ao vento, palavra que fere, adere e firma o alento em todos nós. O canto de Bethânia não nos deixa sós, e roga por mim, por você e por todos nós. Canto que quebra demanda, rompe quebranto, arrebenta corrente, liberta, reboliça, enfeitiça de pureza. É um canto baiano, indígena, brasileiro de aruanda. Bethânia com seus mantos, com seus pés descalços, com seus penachos, com suas entregas, com uma vocação, um sacerdócio que não nega. Bethânia é um canto de ar, de terra, de cascata, de sangue, de fogo, de mata, de néctar, de pólen tão saboroso quão manga madura colhida no pé. Bethânia do que deus quiser, de Santo Amaro, de Gantois, de Mangueira, de Mãe Menininha, de Dona Canô, de Caetano, de Cartola, de Vinícius de Moraes. Bethânia rei e rainha, de tantos plurais, dos circos e dos grandes teatros, aclamada por poetas clássicos e regionais, trilha de solitários e casais, organismo vivo e divino dos apaixonados de toda ordem, certeza de que céu e terra se encontram e de amor explodem.


Comentários

11/02/2016, por Luisa Mendes:

Parabéns!

11/02/2016, por Betinho da Rocinha:

Texto maravilhoso. Dá-lhe Mangueira, dá-lhe Bethânia.


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