Daniel Campos

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06/11/2009 - Berliner Mauer

Tijolo por tijolo foi se erguendo um muro trágico.

Um muro que separou pensamentos, sentimentos e outros ventos da cabeça e do coração. Um muro sem cor, sem desenhos, sem vegetação. Um muro sem razão criador de uma nova fronteira irracional. Um muro que nasceu para dividir o capital do social, o futuro do passado, a águia do urso. Quanto choro acumulado ao longo daquela construção tão horizontal quão vertical? Quantos murros foram dados naquele paredão? Quantos gritos foram ouvidos por aquele muro sem nação? Quantas esperanças foram depositadas naquela barreira que virou bandeira de luta e força bruta?

Quantas flores murcharam esperando aquele muro cair? Quantos relacionamentos foram rompidos esperando aquele muro sucumbir? Quantos deuses foram invocados na tentativa de destruir aquele muro? Parentes deixaram de se encontrar. Amigos se tornaram inimigos. E o alemão ganhou sotaque francês, inglês, russo. E a Alemanha ganhou divisões e subdivisões difíceis de serem compreendidas e aceitas. A concretude do muro tornou um povo abstrato. Abstrato de identidade e de existência, já que muitos se perderam tentando superar o muro quase insuperável.

Com espírito de roteiro de cinema, o amor uno de um casal alemão foi dividido em dois ao longo dos mais de 160 quilômetros de tijolos, grades, armadilhas, torres de observação, redes eletrificadas e cães ferozes. Um coração apaixonado teve de ser partido, originando um pedaço oriental e outro ocidental. E dois corpos quentes tiveram de enfrentar uma guerra fria, vazia, sombria. Em 28 anos, quantos beijos deixaram de ser dados? Quantos filhos deixaram de ser gerados? Quantos desejos ficaram refugiados? Quantos momentos foram roubados por um muro que não sabia amar?

Respostas que tendem ao infinito assim como o número de tijolos que compuseram aquela tragédia em forma de muro.

Observação do autor: No próximo dia 9 comemora-se 20 anos da queda do Muro de Berlim (Berliner Mauer, em alemão).


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