Daniel Campos

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18/01/2013 - Barco meu

O meu barco vai sair do cais dos olhos de uma morena. O meu barco vai seguir mar adentro rumo ao que me disse uma pequena. O meu barco vai ziguezagueando pelas ondas livre da matemática e de seus teoremas. O meu barco vai poético, num sentimento carnal e fonético feito gaivota. O meu barco vai deixar para trás sem pena todos os dilemas da cidade grande. O meu barco é afinado na nota do coração. O meu barco é o tempo que expande sem parar. O meu barco é movido ao verbo gostar. O meu barco tem como comandante um pirata da ilusão.

No meu barco tem garrafas cheias de mensagem de amor prontas para serem atiradas ao mar. No meu barco tem um barril de pólvora e um canhão capaz de derrubar estrelas de néon. No meu barco tem um espelho para as sereias que quiserem retocar o batom. No meu barco tem uma rede embalada pela maré das algas. No meu barco tem uma mulher que diz estibordo e bombordo ao vento. No meu barco tem um sonhador que dorme ao relento. No meu barco tem um convés de valsa que seduz os pés de anjos e demônios das águas.

Pelo meu barco correm boatos de naufrágios e outros sufrágios. Pelo meu barco não há preocupação alguma com destino. Pelo meu barco há perfume de menina e fome de menino. Pelo meu barco há noites de vinho e deuses que não deixam ninguém sozinho. Pelo meu barco há sempre uma ou outra fantasia andando em desalinho com o dia a dia. Pelo meu barco passam viajantes e amantes de caça ao tesouro. Pelo meu barco navegam cristãos e mouros apaixonados. Pelo meu barco a ancora é um desejo amaldiçoado.


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