Daniel Campos

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03/03/2008 - Avalanche de chocolate

Tentei fugir, mas eles eram milhares. Os corredores do supermercado se fecharam. Fiquei sem saída. Fui atacado pelos ovos de páscoa. Faltam mais de vinte dias para a data festiva e eles já estão lá, aos montes. De todos os tamanhos, de todas as cores, de todos os formatos... Pendurados ou em prateleiras, eles contrariam a hierarquia da cadeia alimentar e nos devoram vivos...

Há quem faça a promessa do mais espesso e puro chocolate. Há quem traga brindes para atrair a criançada, como carrinhos e bonecas da moda. Há quem se envolve de mistério sobre seu conteúdo. Há quem tenha amendoim, castanha do pará, coco, nozes, passas... Há os brancos e os negros e os mulatos. Naquelas duas metades há gêmeos univitelinos (idênticos) e bivitelinos (diferentes). Há quem capriche no papel e nos desenhos.

Estamos longe das comemorações da Páscoa, mas a multidão já lota carrinhos. É ovo para a namorada, para o filho, para a tia, para o primo, para o amigo, para o vizinho, para a irmã, para o chefe, para a sobrinha, para o afilhado... É uma correria, uma pseudo-alegria, uma nevralgia... Eles estão lá, prontos para rolarem numa avalanche de chocolate sobre nossas cabeças.

O que mais me incomoda é a falta de sentimento que há nisso tudo. Comprar ovo de páscoa é uma obrigação. O obrigatório virou tradição. Se você não der, você não ama, você não lembra, você é um monstro. Infelizmente, nesta época, o amor é passível de ser computado nos caixas de supermercado.

Não estou tirando o mérito do presente (que é bonito e saboroso), no entanto, mais romântico seria presentear com um ovo desses em setembro, por exemplo, contrariando a lógica do mercado. Quem determinou a obrigatoriedade deste símbolo deve ser a mesma pessoa que espalhou por ai que coelho bota ovo.


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