Daniel Campos

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03/12/2008 - Andar sobre brasas

Hoje é seu aniversário. Talvez o mais dolorido de todos eles. Fica difícil lhe dar os parabéns e comemorar algo diante de uma perda tão recente. Definitivamente, hoje vai faltar o abraço de sua mãe. Aliás, hoje vão faltar todos os abraços que não foram dados em momentos bobos. Hoje vai faltar uma felicidade que escapou de suas mãos como um passarinho. Ah! De fato, ela morreu como uma ave. Por maiores os golpes, ela jamais deixou de abrir as asas e, mais do que voar, tentar salvaguardar o mundo sobre elas. E você sempre fez parte deste mundo. Hoje você vai sentir vontade de dar o primeiro pedaço de bolo para uma pessoa que, pela primeira vez, não vai estar presente em sua festa. Hoje vai ser tarde demais para muitos desejos...

As lembranças e as dores vão latejar em seu corpo e em sua mente, contudo, que esse aniversário seja encarado como o início de um novo tempo. Que os abraços tenham efeito de sacolejos, positivamente falando. É preciso caminhar sobre as brasas do passado como aqueles indianos, mas com os olhos voltados para o futuro. É preciso enfrentar o amanhã e jamais se esconder em uma caverna, se internar em um casulo, se enterrar em um túmulo que não lhe cabe. Há vida lá fora. Sua mãe se foi, mas seus ideais continuam aqui. E há um legado, deixado por ela, a ser levado adiante. E é isso que está em jogo agora. Embora os sentimentos sejam opostos, a morte e o aniversário de vida devem ser encarados como uma passagem. E o ideal é que esse passar simbolize uma nova fase, um avanço, uma evolução. É hora de mudar os caminhos, os passos, as atitudes e olhar o mundo seguindo o exemplo dela. Um exemplo de viver o prazer que há em se doar e servir humildimente a propósitos maiores.

Ao contrário dos votos costumeiros de saúde e felicidade, hoje lhe desejo força. Força para provocar em seu íntimo essa mudança interior. Esse renovar-se será o maior presente de aniversário que já recebeu. Não pode ser exibido como jóia ou vestido como um tecido fino, mas pode ser sentido até mesmo por quem já se foi. Sua mãe vai ficar orgulhosa se conseguir fazer isso. Afinal, quem se foi não precisa de lágrimas, tampouco de tristeza. O choro póstumo, além de envelhecer quem o derrama e entristecer quem está a sua volta, não tem o poder de mudar absolutamente nada. Por isso, ao soprar as velas de um bolo concreto ou imaginário, deseje um novo tempo a você mesma. E antes mesmo que as velas se apaguem, comece a buscar essa nova mulher, esse novo horizonte, essa nova vida. Ainda há tempo para o dia de hoje se transformar em um feliz aniversário. Feliz Aniversário!

Observação do autor: Texto dedicado a minha mãe, Maria Etelvina, que perdeu a mãe recentemente


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