Daniel Campos

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07/04/2008 - Amor engarrafado

Antes de qualquer naufrágio ou sufrágio, ela amanheceu tão límpida. Dava pra ver, no seu olhar, as conchas de um mar azul que já não há pras bandas do sul. Quanta luz naqueles dois portais dispostos em cruz, que me levam como um veleiro pro lado de lá de um tempo que eu sabiá não sabia e, como uma vela ao vento, em sentimento ia.

Eram corais vermelhos de pudor e eram cardumes de desejos e galeões afundados em segredos. Ah! Tudo era cor, tudo era paz, tudo era flor a flor da pele. Sua boca se quebrava nas ondas da minha boca de areia e tudo era sol, tudo era sal, tudo era sereia em mi-bemol. E nós dois entregues às correntes marítimas, torrentes de vontades íntimas.

Nós dois ali, feito polvos apaixonados, se entreolhando e se abraçando como submarinos flertando um mesmo amor, um mesmo tempo, um mesmo ardor. Como golfinhos, nós ali rompendo águas e mágoas todos fartos de carinho. Nós aqui, como baleias, infinitos nesse mar que nos mareia e nos convida a caminhar só de meias rumo à cidade perdida. E que não se entenda meias palavras, tampouco meias vidas.

Entre a realidade e a saudade, veio a tempestade. Netuno acordou, o mar se agitou e um navio pirata atracou em nosso porto. Tudo ficou torto, tudo ficou morto, tudo ficou nas lembranças de quem sonhou. E nas águas das águas vivas surgiram os tubarões do medo. Antes de ser abatido por tarrafas o segredo dos corações velejantes e amantes se trancou em uma garrafa e partiu em busca dos mares de outros olhares.


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