Daniel Campos

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07/11/2015 - A parte pode ser o todo

Se o rio encher, transborda. Se o olho crescer, vira olho-gordo. Se a banana viçar demais, empedra. Se o ciúme passar dos limites, sufoca. Se a música se alongar, cansa. Se o doce passar do ponto, açucara. Se o medo ganhar asas, vira pânico. Se o choro for além, alaga a alma. Se colocar muito limão, azeda. Se a cruz dobrar, não se pode carregar. Se abusar do ouro, passa-se de chique à brega. Se o sono for mais que o bastante, a vida passa. Se fritar um minuto a mais, queima. Se mais pensar do que escrever, perde o poema. Se a poda for severa, mata. Tudo nesta vida tem a sua conta, a sua medida, a sua receita. O segredo está em sabermos a hora exata de parar isso ou aquilo para que fiquemos com o melhor de cada coisa, de cada pessoa. Nem sempre mais é o melhor. Precisamos saber dosar para que a nossa insaciedade não ponha a perder o perfeito está. Se o sabiá tivesse três asas ou dois bicos não iria voar ou cantar melhor ou mais bonito do que já canta. Encanta-se com o fato de que a parte pode ser o todo, eis a arte.


Comentários

09/11/2015, por Dalva:

Arte e realidade


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