Daniel Campos

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A nossa missão

Hoje é domingo. Mas hoje é um domingo especial nesses mais de quinhentos anos de Pátria Brasil. Eu sei leitor, cada ser humano tem o seu domingo guardado na memória. Cada um tem as suas jovens tardes, manhãs ou noites de domingo. Cada um de nós guarda um prazer, um amor, um olhar de algum domingo. Entretanto, caro leitor, hoje é diferente. Hoje é um domingo onde o sonho pertence a todos.

Hoje, o dia, por si só, tem uma saudade. Quem não se lembra de Ayrton Senna? Quem não se lembra das corridas de domingo? Quem nunca torceu, sofreu, viveu Ayrton Senna aos domingos? Diante da tela da televisão, acima de qualquer coisa, éramos brasileiros. Quando Ayrton ia às pistas no domingo, o sonho era possível. É nesse plano coletivo que o domingo, hoje, pode se tornar um marco. Mais uma vez, somos brasileiros.

Hoje, por mais uma vez, o sonho se torna possível. E esse sonho já foi marginalizado, torturado, quase extinto. Esse sonho de um país decente. O país nas mãos da elite, o país nas mãos dos militares, o país nas mãos da corrupção, o país nas mãos da falta de governo tem que ser parte do passado e nada mais. O amanhã tem que ser diferente.

Hoje é dia de se encontrar com o Brasil. O Brasil que não tem o rosto de Gisele Bündchen. Brasil de tantos joões e marias. Brasileiros de mãos calejadas. Brasileiros de marcas doridas. Brasileiros que vendem chicletes nos sinais. Brasileiros que são assassinados na porta de casa. Brasileiros que alimentam a fila dos desempregados. Brasileiros que não tem condição de estudar. Brasileiros sem oportunidade. Brasileiros que choram diante da falta de futuro dos filhos. Brasileiros com tantos sonhos guardados. Brasileiros como eu, como você, leitor, como nós. Brasileiros que mesmo com toda angústia, com todo sofrimento, com todo medo... vão levando.

Hoje, não importa a religião, a raça, o pensamento, o sonho existe. Um sonho social. Quem sabe, a fome pare de marcar os olhares do nosso povo. Quem sabe, as mãos do povo comecem a escrever uma história com final feliz. Quem sabe, as sementes brotem da terra. Quem sabe, tenhamos algo para comemorar. Quem sabe, as ruas deixem de esconder o medo. Quem sabe, a esperança seja mais que um mito. Quem sabe, as mulheres possam ser mães e que seus seios vertam esperança. Quem sabe, exista um amanhã.

Hoje é domingo e quantos partos irão acontecer. O Brasil pode começar de novo, hoje. Não vai existir milagre, mas pode existir o começo. O recomeço. Pode ser que esses meninos e essas meninas vivam os nossos sonhos. O Brasil que sonhamos talvez lhes seja possível. Hoje, o Brasil precisa sonhar. Hoje, o Brasil precisa nascer para todos. Hoje, o Brasil precisa encontrar o Brasil. É preciso encontrar o seu rosto, o seu rosto Brasil.

Hoje é domingo. Um domingo que pode ser o começo de tantos outros domingos. Hoje, não tem Ayrton Senna, mas tem o seu exemplo. Quem não se lembra de Ayrton Senna na volta da vitória, depois de tanta luta durante a corrida? Quem não se lembra daquela bandeira verde-amarela tremulando em seus braços? Leitor, eu devo confessar, as palavras me embargam. Fica difícil escrever. (Pausa). Hoje é domingo, precisamos empunhar a bandeira do Brasil. É a nossa missão. Nós, os sonhadores.

Hoje é domingo e um domingo especial. Hoje é domingo e eu e você, caro leitor, enfim, nós estamos todos grávidos de esperança. Quem sabe, não é hoje que nossos sonhos irão nascer. E quem sabe amanhã, os nossos sonhos não começam a caminhar pela vida. Quem sabe.


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