Daniel Campos

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13/03/2013 - A minha

A minha sombra tem a sua silhueta. A minha lua tem as suas marcas de batom. A minha estrada tem os seus passos a me chamar. A minha loucura tem origem em você. A minha maçã tem a sua mordida. A minha insônia passa pelo seu sono. A minha rotina é lhe conjugar nos verbos mais apaixonados da nossa língua. A minha apoteose começa nos seus pés. A minha saudade tem o seu formato, o seu conteúdo, o seu nome. A minha reta entorta quando lhe encontra. A minha fome é a sua fartura.

A minha música nasce dos seus tons. A minha tristeza é banhada pelo seu pranto. O meu segredo é o seu mistério. A minha dor só acaba com seus remédios. A minha cor muda de acordo com a sua pintura. A minha realidade tem fundo na sua ficção e vice-versa. A minha janela dá para os seus olhos. A minha pulsação está marcada no seu ritmo. A minha sede me leva para suas águas. A minha liberdade está condicionada a forma como você me aprisiona.

A minha face é a sua faceta. A minha leitura diária acontece nas páginas do seu corpo. A minha temperatura oscila com o tamanho das suas labaredas. A minha fala discorre sobre o seu silêncio. A minha esquina se dá pelo cruzamento das suas ruas. A minha partida é a sua chegada invertida. A minha prateleira tem doses surpreendentes do seu sal e do seu açúcar. A minha fuga sempre se dá em sua direção. A minha fé é no seu santo. A minha morte e a minha vida se beijam nas linhas ciganas da sua mão.


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