Daniel Campos

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11/06/2011 - A chuva recriadora

De repente, começa a chover na mulher da estiagem. Que os amantes cavem, remexam e revolvam a flor da pele dessa mulher para que os poetas possam semear o amor. Úmidos, os sentimentos dessa mulher tendem a brotar com força, rompendo as sete camadas de solidão. A época de sonhos secos, mirrados e agonizantes acabou. Tem início o nascimento de um tempo de fartura, espalhando uma primavera fora de época pelo horizonte que a contempla. Raios a cortam iluminando-a em lampejos à santa Bárbara, em promessas à santa Clara.

Ao escorrer por braços e pernas, a chuva reaviva as cores dos olhos que a desejam, que por sua vez colorem o mundo numa aquarela de amores. A chuva penetra no íntimo dessa mulher e fertiliza seu coração, germinando suas luas. Chuva que amolece o barro de Adão e lava a costela de Eva reencontrando-se com a criação original. Chuva que aflora as nascentes dessa mulher e matam a sede dos apaixonados. Chuva que troveja pelas nove almas dessa mulher que flutuam como nuvens dentro de sua caixa torácica.

Chuva que provoca deslizamentos de valores e correntezas de sabores mil ao longo do perímetro dessa mulher. Chuva que inspira os navegantes a cruzarem os sete mares dessa criatura. A chuva muda a temperatura dessa mulher, causando-lhe tremores e arrepios. Até mesmo a atmosfera em torno dela fica mais pura, uma vez que a chuva lava todas as energias ruins que a envolvem. A chuva provoca seu desejo maternal ao ponto de seus lábios escorrerem uma seiva que alimenta e dá vida.


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