Daniel Campos

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14/07/2012 - A borboleta Amy Winehouse

Uma borboleta tatuada e de asas negras, assim é a borboleta Amy Winehouse. Uma borboleta com estilo próprio, geniosa e divertida. Uma borboleta vestida como uma garota dos anos 60. Uma borboleta pin-up. Uma borboleta em voo vintage. Uma borboleta confusa, tumultuada, turbulenta. Uma borboleta sem qualquer limite. Uma borboleta pronta para desobedecer a qualquer regra borboletiana vigente. Uma borboleta ousada como seu jazz. Uma borboleta menina do papai. Uma borboleta do showbiz. Uma borboleta que tem tudo para dar certo e dá errado ou uma borboleta que tem tudo para dar errado e dá certo? Uma borboleta charada.

Uma borboleta boemia, que chora por amor e ri de suas próprias loucuras. Uma borboleta ídolo, e como tal, invejada, imitada e assediada. Da lagarta à borboleta, Amy é a crise em constante metamorfose. Uma borboleta em apuros. Uma borboleta que não consegue conviver com tudo o que é. Uma borboleta pop, de voz forte e belíssima. Uma borboleta que passa tão intensa quão fugaz. Uma borboleta cuja cabeleira e personalidade a transformam em espécie rara, ou melhor, raríssima. Uma borboleta bêbada de emoções e dependente de voos cada vez mais altos. Uma borboleta entre medos, fantasmas e dramas blues. Uma borboleta com exuberantes pares de asas, mas ainda presa em sua crisálida.

Uma borboleta soul, cujo canto parece mais uma explosão. Uma borboleta diva, mas que traz o subúrbio pulsando em sua alma. Uma borboleta rebelde, que voa de polêmica em polêmica. Uma borboleta premiada, amada, perseguida. Uma borboleta num céu alucinógeno. Uma borboleta feita para pousar nos palcos. Uma borboleta talentosa enquanto arte, mas sem habilidade para controlar o próprio voo, feito de altos e baixos. Uma borboleta que, como poucas, simboliza a inconstância, a rapidez de transformação e a série infinita de novos começos da existência. Uma borboleta que quebra o estereótipo de beleza. Uma borboleta ousada, extravagante, escandalosa. Uma borboleta estrela, que jamais permitiu que amarrassem suas asas.

Como toda borboleta, Amy teve uma morte precoce. Morte? Sem dúvida alguma, Amy deu força às antigas crenças gregas de que quando alguém morre o espírito sai do corpo com uma forma de borboleta. Na mitologia grega, a personificação da alma é traduzida por uma mulher com asas de borboleta. A mãe da cantora tem razão, Amy continua borboletando por aí, para o delírio e desespero de anjos e mortais. Os supersticiosos dizem que uma borboleta negra traz notícia de morte. Amy sempre foi a morte anunciada, voando entre as dores e as perdas do mundo. Uma borboleta sempre Back to Black, isto é, de volta ao luto, ou melhor, à roda da existência.


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