Daniel Campos

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Roda-gigante

Um leve toque do indicador era o suficiente para chamar o elevador. E era mais que suficiente para libertar aquela mulher que tivera uma manhãa estressante no trabalho. O chefe não gostava do seu tempo, do seu trabalho, de nada que fazia. Mas aquele toque não foi o suficiente para levar, de uma vêz por todas, aquela mulher dali. O elevador demorava para subir ou descer. Ela esta no sexto andar. Na metade do prédio. Então, ela caminha e seus olhos se depararam com a paisagem da janela. Depois de quatro anos trabalhnado ali essa era a primeira vez que ela reparava na paisagem da janela.

Sem dúvida, debruçou seus olhos ali. Aliás, debruçar foi pouco. Seus olhos se atiraram feito duas balas acastanhadas. Seus olhos se jogaram feito dois suicidas. Seus olhos se lançaram feito duas flechas dipsostas em arco. Seus olhos ultrapassaram aquele concreto, aquele telhado de zinco, aqueles outros prédios, aquele asfalto e uma vegetação feita de copas de árvores. Os tons de verde de cada copa se misturam num borrão verde como um quadro impressionista onde os pincéis foram forçados por golpes de espátula.

Mas não era li, naquele verde borrado, que os olhos daquela mulher encontram parada. Era um pouco mais longe. Como uma flor geométrica, como uma árvore de aço, uma imensa roda gigante branca nasce no meio daquelas árvores. Uma roda gigante parada vazia. Mas só para olhos comuns. Nos olhos daquela mulher a roda gigante começa a rodar e aquela mulher se enxerga em uma de suas cadeiras.

O elevador chega, se abre... e desce vazio.

Ela se vê ali sozinha, com um sorriso no rosto como há tempos não se via. Ela se vê ali em olhares que há tempo não tinha. Outro elevador chega, se abre, alguém ainda pergunta se ela vai descer, ela não responde e o homem de gravata vinho ainda a responde mal e, despesperado pelo térreo, apressa as portas do elevador. Ao contário dele, aquela mulher queria voar. Afinal ela estava em uma roda gigante a léguas e léguas dali e nem descia, nem subia, só girava, só rodava...


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