05/08/2012 - Profecia de pintassilgo
O pintassilgo cantou que o sonho acabou. Podemos abandonar os ninhos, os céus, o nosso papel nesse destino cruel. As esperanças que não morrerem por causas naturais ou pela onda de pestes serão abatidas. A sangue frio a fantasia escorrerá como um rio. Dar-se-á, na imensidão do universo, lugar ao vazio do vazio do vazio do verso. O verso, mudo e surdo, como um copo vazio. Nada de arrepio. Nada de arredio. Nada de sementes nos canos do fuzil. E a dor não cessa nem com uma overdose de doril.
O pintassilgo cantou que o sol não raiou nem raiará. A escuridão tomou de conta. A colombina anda tonta, o pierrô tomou o primeiro barco e o arlequim se trancou no quarto. Os teatros foram trancados, lacrados, queimados. Os livros foram despetalados como flor em mãos mal-amadas. Uma espécie de apocalipse se instalou nas coisas do coração. O sentimento descarrilou. A poesia surtou e foi colocada numa masmorra. O grito de “morra!” infesta o ar. O ar pesado que já não suporta a leveza do pintassilgo.
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