14/03/2012 - O silêncio que mata
Depois do baile, os sapatos estarão no chão e os pés tatuados de notas musicais. Na planta dos pés, partituras inteiras. Pés com predominância de sol, de fá, de mi... Pés bailarinos silenciados de dor. Não da dor de calos ou bolhas de sangue, mas da dor do silêncio. Do silêncio nascido da ausência de música. Os músicos se perderam, os pares foram desfeitos e o salão ficou tão escuro quão noite sem vagalume. O corpo deserto e incerto como um eclipse que traz sempre a dúvida entre o temporário e o eterno.
Depois do baile, seu corpo exausto e aliviado arca, curva, tomba. Suas asas caídas ao chão. Seus rodopios rodopiando longe de suas vistas. Seus sorrisos ainda pairam no ar em movimentos compassados. Rítmicas, suas preces por mais uma dança bailam entontecidas de um lado para outro, aflitas, debatem-se e morrem aos seus pés. Sem som, a bailarina definha. É como nuvem sem vento, como mar sem maresia, como estrela sem ponta. Sem música, a dançarina não existe. E sem a dançarina, o alegre se faz triste.
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