Daniel Campos

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13/10/2008 - Foie Gras à brasileira

Senhor garçom, por gentileza, desce um foie gras. Foie Gras? Pelo nome, deve ser coisa de primeira, da grã-finagem, tipo aquele caviar cantado pelo Zeca Pagodinho. Bem, o prato é uma das iguarias mais sofisticadas da culinária francesa, com origem lá no tempo dos egípcios. Mas, depois de saber o significado e o modo de preparo, duvido que o apetite seja o mesmo. Vamos para a tradução ao pé da letra: foie gras significa fígado gordo. Fígado de quem? De pato ou de ganso superalimentado.

Para realçar o sabor, é preciso realizar a gavage, ou seja, estufar o fígado do ganso dando alimentação em excesso para ele. Dessa forma, o órgão cresce chegando a uma textura mais tenra. Mas isso é bom, afinal trata-se bem do bichinho. Não se iluda com isso, senhor garçom. Ou achas bom os produtores colocarem um cano de trinta centímetros na boca do animal injetando comida sem dó nem piedade. Um pato pode dobrar de peso acumulando gordura, principalmente, no fígado. Alguns chegam a morrer de tanto comer. Depois de tudo isso, acha ético, meu senhor, servir um foie gras?

Pois bem, e o foie gras à brasileira? Existe isso? Por aqui ele pode ser chamado de assistencialismo. A técnica consiste em estufar o papo do eleitor para que no dia da eleição ele eleja quem lhe dá comida na boca. Ao contrário dos gansos que comem oito vezes por dia, os governantes acham que três refeições diárias são o bastante. E essa iguaria tem feito sucesso país afora. Que o digam as urnas. Embora haja uma certa euforia em torno do gavage eleitoral, isso também é crueldade, não é senhor garçom?


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