17/01/2017 - Dor de dente
No silêncio da noite, escuto seus passos me assombrando. Sua falta ainda me apavora. E o tempo ignora o verbo esquecer quando se trata de eu e você. Sentimentando, eu me pego sonhando com tudo o que ficou para trás. É como se você estivesse em cada xícara, em cada canto, em cada centímetro quadrado de onde habito. Sua voz, entre sussurros e gritos, está impregnada nas paredes. E tudo isso tira a minha paz. E eu me lembro quando deitava em meus braços como se eles fossem sua rede. Eu matava a sua fome e você, a minha sede. O seu travesseiro ainda guarda o seu perfume. E mesmo distante, sem saber por onde andas, queimo de ciúme. Eu disfarço, mas eu acho você até no espelho. Ora é reflexo ora é vulto ora é miragem ora é alucinação. E quando o vento tremula as cordas do meu violão é o seu nome que sai esbarrando em meus ouvidos em forma de canção. Eu viro o disco, eu mudo a faixa, eu troco de canal, mas você está diretamente conectada ao meu sistema nervoso central. Por mais que eu jogue as suas lembranças fora, tudo misteriosamente volta para os arquivos nada secretos da minha memória. É uma luta inglória, travada dia e noite, entre a poesia e o açoite. Eu rasgo as páginas do nosso romance sem final feliz, mas a nossa história continua presente, tão forte e latente, como uma dor de dente.
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