A falta que você me faz

Ah! Já não posso mais
Viver assim
De tontura em tontura
Só caindo num amor demais
Não posso mais
Viver assim
De procura em procura
Só encontrando em mim
A falta que você me faz
E que nem o tempo desfaz...

Ah! Meu anjo querubim
Diga-me uma resposta
Mais fonética
Do que o fim
Contido em suas costas
Vamos, vá além da tréplica
Para me dizer o porquê
De me deixar assim
Assim sem você...

Sem você
Bebo Vinícius de Moraes
Para tentar compreender
Os seus atos
Mas tanto tempo faz
Que tão logo tento lhe entender
Já começo a me perder
Nos rastos dos seus sapatos...

Olha, eu já nem sei a cor do céu
Fico horas num pedaço de papel
Tentando lhe trazer pra mim
Por favor, não se perca assim
Você, meu silêncio não dito
E o poema mais bonito
Que eu já guardei
Você meu bem
Que tão bem
Casa minhas rimas
Com suas palavras primas
Você que é a métrica
E toda a licença poética
Que um dia eu sonhei
Por favor, não se perca
Não se perca de mim.

Ah! Não posso mais viver assim
Já pedi a todos os santos
Para quebrarem o encanto
Que me faz prisioneiro
Dos ponteiros
Que colocam entre nós
O tempo, o tempo, o tempo,
O tempo que nos deixa só...

A cada dia
Fica mais complicado
A cada dia
Somos mais e mais
Passado
E para cada dia que vem
Um dia se foi sem
Ver-nos lado a lado...

Ah! Não queria que tudo terminasse
Não, não desse jeito tão doído
Não queria que nada se acabasse
Não, não queria ter lhe perdido
Mesmo sem ter lhe tido
Da maneira como queria ter.
Ah! Já não posso mais viver assim
De procura em procura
De tontura em tontura
Sem saber
De mim...

Não! Não podemos desaparecer
Nos esquecer
Nos sufocar
Só pelo simples prazer
De viver o medo
O medo de amar
E se entregar
E se entrevar
E se desvencilhar...

Diga-me, me diga você
Por que o dicionário
Do coração
Tem que terminar
Na palavra separação
Deixa-me ser o seu falsário
E lhe reproduzir em mim
Por dias e dias sem fim...

Ah! Não posso mais viver assim
Desesperado assim
Condicionado assim
Torturado assim
Ah! Deixa-me ver
Seus olhos
Quero ouvir
O que eles têm pra dizer
Quero me ungir
Nos seus óleos
Nas suas entranhas
E ficar nas suas manhas
Até eu deixar de me querer...

Ah! Sem você
Tenho de fazer e refazer
As frases
Suas
Que eu roubei pra mim
Com a ajuda da lua...

Ah! Sem você
Tento sorrir
Convencer-me de que é só uma fase
E fases passam
Porque têm que passar
E eu passo
E eu passo
E eu passo
E de repente
Em meio a um sopro
Meio torto
Eu acho
O compasso
Do seu corpo...

Seu corpo em três dimensões
Em três solidões
Pele, colo e perfume
E eu tenho ciúme
Das palavras que deito
No seu relevo disperso
Em busca de um verso
Mais-que-perfeito...

Então,
Entre a luz e a escuridão
Entre o verbo e a canção
Entre o inverno e o carnaval
Eu lhe encontro nua
Forte e crua
Como um feto
Angelical
E em delírio me faço perto
E quando perto mais perto
De você
Você ali, lírio e deserto...

Ah! Eu e você, você e eu
O canto
Do amor aconteceu...
Mas pra meu espanto
O tempo se atreve
A dizer que todo sonho é breve
E assim, leva você embora
De mim
E assim, coloca dentro e fora
De mim
Essa coisa de que eu não posso mais
Suportar a falta que você me faz...

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