Daniel Campos

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Vida de ilusão

Violão, eu cantaria o amor
Porém fui desafinado
Pela seca do Sertão.
O sol arde com fervor
E o povo desolado
Morre, ansiando o pão
Morre, chorando o pão.

O milho banha-se à poeira,
Tórrido não persiste.
Olhos se voltam ao breu
E embora a água não queira
Chover, a esperança existe
E lamenta o dia que viveu
E agradece o dia que viveu.

Noite. A lua se envergonha
E o orvalho tenta chorar,
Mas o sacrifício é ilusão.
Rios áridos ainda sonham
E o verde inicia o desbotar,
A criação prostra-se ao chão
A criação submerge ao chão.

As crianças respiram pó,
O amanhã é despedida...
O cão espreita atento,
A dor da fome é uma só.
Sedento, o fim da vida
Leva agonias ao vento
Leva nostalgias ao vento.

Em um chuvisqueiro breve
Enxadas já se remexem,
Bocas escorrem saliva:
São José, a fé, a prece.
Alguém o acorde fenece,
Não rima desilusão
E, como eu, cala o violão.


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