07/02/2014 - Sim, um abraço
Eis um abraço sem espaço para mais nada senão o abraço
Sim, um abraço que cole corpos e almas ao mesmo tempo
Que não haja brecha alguma para ser ocupada pela solidão
Ou por qualquer outra presença indesejada, como o medo
Sim, um abraço capaz de dar toda segurança e confiança
Ao ser abraçado, de modo que tudo conflua para a junção
De sonhos, de esperanças, de projetos, de emoções
Sim, um abraço que traduza toda a cumplicidade que há
Nessas criaturas que se completam quando abraçadas
É como se o mundo lá fora não existisse e tudo sorrisse
Sim, os problemas se acabam, as preocupações se vão
Só há o sentimento de não querer que aquilo que se acabe
Nunca mais. E os corpos, desejando-se, desejam o infinito
Sim, querem estar pulsando uma para o outro, um no outro
Como se as peles se misturassem numa química perfeita
Um abraço que redimensiona os perfumes e as temperaturas
Sim, há uma entrega na dose exata para que dois sejam um
Respeitando individualidades, mas valorizando o conjunto
O acoplamento de sentidos existentes nesta coletividade
Sim, há um compartilhamento de existências, experiências
Mas, acima de tudo, há uma fusão daqueles dois corações
Num corpo apaixonado que ilumina, inebria e encanta
Sim, esse abraço é mágico, principalmente, no encaixe
Há o entrosamento dos nascidos um para o outro
Dos contornos e conteúdos que se continuam no alheio
Sim, são bocas gêmeas, são mãos gêmeas, são artes gêmeas
Há uma geminalidade aflorando e se atestando em tudo
O que diz respeito aqueles que se declaram apaixonados
Sim, o abraço traz à tona declarações e juras e perjuras
Os olhos conversam sem palavras e os beijos eclodem
Numa sensação de paz e êxtase, de triunfo universal
Sim, há toda uma vitória neste abraço mais forte que aço
E leve como se fosse levado às nuvens e estrelas
Numa confissão de que não há fronteiras ou barreiras
Sim, tudo se rende aquele abraço que prende os corpos
Deixando-os livres para viver o amor que lateja e brota
Por todas aquelas células que se entrosam com naturalidade
Sim, tudo se comunica, se casa, se encontra naquele encontro
De destinos, de sinas, de papeis, de amores convictos
Não, não há espaço para dúvida, para incerteza, para depois
Sim, o abraço possibilita o amanhã agora, o sentimento vivo
A verdade absolta e o querer e o poder e o viver e o erguer
De dois copos de carne e poesia num brinde intenso e sincero
Sim, o abraço é a confirmação de que só querem o melhor
Um para o outro, em matéria de realizações e cuidados
Não permitindo ocupações irregulares de dor ou maldade
Sim, aquele abraço parteiro dá à luz um novo tempo
Carregado de sensações, anunciações e feitos inéditos
Um abraço que vai além do que se vê, do que se ouve
Sim, as silhuetas tem uma linguagem particular
Repleta de sussurros, gemidos, silêncios, toques,
Leituras e recitações numa fértil encantaria
Sim, há muita imaginação correndo solta pelo abraço
Que é real a ponto de se deixar beliscar
Por deuses que não acreditam naquela força
Sim, o abraço humano é, digamos, subrehumano
Como se anjos abraçassem fadas
Como se princesas se enlaçassem com loucos
Sim, há fantasia e loucura por todo esse abraço
De modo que os abraçados vivem o final feliz
Do era uma vez sem haver a necessidade de final
Sim, o encontro é reencontro e pede novo encontro
Antes mesmo de se acabar, pois a saudade é sentida
Mesmo antes do abraço se desmanchar
Sim, o abraço quando feito perde a noção das horas
Repudia todas as leis e cria um universo à parte
Porque são partes do mesmo se fazendo todo
Sim, o abraço tem eletricidade, magnetismo,
Altruísmo, doação e uma fidelidade ímpar
Que emociona, alimenta e direciona
Sim, do abraço caminhos são criados e validados
Segredos são revelados e deliciados
E a felicidade é vivida em sua integralidade
Sim, o abraço é a prova nítida de que é possível
Ser feliz de forma tônica e indiscutível
E a beleza daquele encontro deixa marcas
Sim, conscientes, subconscientes e inconscientes
São marcados profundamente naquele abraço
Com sinais futuros e ancestrais feito tatuagem
Sim, o amor se faz e refaz naquele abraço
De um jeito que não há o mínimo espaço
Para surgir mais nada que não for da paixão
Sim, há uma apaixonamento mútuo e irrestrito
Que concretiza o abstrato e realiza o surreal
No encontro de braços em abraços do abraço.
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