Salmoura
A vida deita seu corpo na terra fresca
Nos desertos do nada, ecoa gemidos
E deixa escorrer o suor
E grita a dor do prazer
E cerra os dentes nas contrações
E soluça desconsolada
E, envolta de solidão, chora.
No rosto de traços nervosos
Debruça-se a água de salmoura
O momento está para acontecer
Não há frascos de sol
Nem cálices de lua
Não se sabe se é claro
Ou as sombras saem dos cantos.
Tudo se envolve num tom avermelhado
Invadido de porções de estrelas
A respiração ofegante
O ar parece escasso
As mãos são cravadas na terra
Úmida e macia
Dos seios expostos à imensidão
De almas vazias.
Escorre chamas de um fogo brando
Que não queima a pele frágil
E da razão
Ela se cala no vácuo do silêncio
Como nunca houvera feito.
O parto e a esperança
Da menina de choro fácil
Correr descalça pela vida
Com a calma que nos ensinam
E com a ânsia que nos percorre
Correr e parar de repente
E depois começar a caminhar
Fazendo-se inerte e movimento
Se equilibrando
Entre o desespero e a paciência.
E enfim
De uma vida desacreditada
Nasce
Ardente e cicatrizante
A espera.
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