22/02/2015 - Roseira da serra
Nasceu lá na serra, nua e vermelha de vívido sangue,
Uma roseira que berra de solidão
Como que com as pétalas furadas por bangue-bangue,
Numa dor além da imaginação
Nasceu da morte de uma grande paixão, de um casal caído,
Dividido entre a sorte e a razão
Ela amou demais, entregou-se, perdeu a paz
Ele cego permitiu que a desconfiança entrasse em seu coração
Como prego batido pelo martelo da traição
E o romance que era para não chegar ao fim
Perdeu a esperança em nuances de desespero
Desandou-se o tempero do ciúme e fez-se o ardume
No mesmo cenário de tantos beijos – o jardim
Da casa que construíram juntos com tanto assunto
Diante do cachorro maltês e sem esperar os filhos da vez
Ignorou o tempo inteiro de uma vida de entrega
Mas a desconfiança é bicho que não sossega
E come de dentro pra fora não havendo regra ou rega
Que dê jeito. Depois da primeira mordida surge a ferida
E nunca mais se é perfeito como já foi um dia
Que vai ficando longe esse dia num enredo de fantasia
E o que se viveu se perde entre a realidade e o surreal
Desprezando tanto a ligação visceral quanto a zodiacal
Ele tomou-lhe a vida num golpe certeiro e para não ser prisioneiro
Da crueldade da saudade caiu sobre ela já arrependido
Do malfeito, escorregou-se num murmúrio aos lábios dela,
Numa aquarela de pranto e sangue e grama foi correspondido
Pela boca que num último gemido fez-se entender que o ama
E agora como que numa beleza que chora a roseira da serra
Berra sua paixão como quem implora pétala a pétala por perdão
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