Releituras
De repente,
Vasculha suas coisas
Em busca de um segredo,
Controla o medo
E a respiração,
Procura pelo escuro
Para não deixar sinais
E encontra o papel
Onde minhas palavras
Se misturam as suas digitais...
E quando encontrar
Versos dobrados
E perfumados de ontem,
Não se esqueça
De ligar o rádio
E o abajur,
Uma luz fraca
E uma música forte,
De preferência
O resto de uma luz
E uma bossa-nova,
Tranque a porta,
Duas voltas na chave,
Deite-se na cama
Por alguns minutos
Até que todo o seu corpo
Pulse,
Até que não seja nada mais
Além de um coração...
Então, devagar
Desamasse os versos
E comece a lê-los,
Tente fazê-lo
Como se não os conhece,
Como se fosse o primeiro
Encontro,
Leia de uma só vez,
Depois, verso por verso,
Deixe as pausas
Serem maiores do que as palavras
E que essas pausas sejam poéticas,
As pausas soprarão o poema
Aos seus ouvidos,
E não se assuste,
Se mais do que de repente
O poema ganhar o ritmo do seu coração...
Não estranhe se as palavras
Começarem a dançar pelo papel,
Depois pelo quarto
E num instante,
Fugirem por debaixo da porta,
Não se assuste,
Elas voltam
Quando você menos perceber,
Elas voltam
Para dançar com você,
Para dormir em você...
Depois da leitura,
Volte para a cama,
Destranque a porta,
Apague o abajur,
Solte os cabelos,
E adormeça,
Coração e bossa-nova
Irão se confundir
Até você se esquecer de você,
E quando acordar
As palavras estarão no papel,
As lembranças
Serão fortes e fracas,
Como bossa-nova
À luz de abajur.
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