Daniel Campos

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Reflexões sobre o que não sei

Os namorados que se sentam à mesa
E dão-se as mãos num encontro frio
Lançando olhares de amor supremo
Não sabem, mas, na verdade, não se amam.
Os namorados que se acham tão íntimos
Frente a frente há tantos encontros
Conhecem as faces alheias em todos os detalhes,
As faces intelectuais e as faces físicas,
Todavia, nessa mesmice de paisagens
Eles nada compreendem na criatura amada...
Os namorados que não sentem ciúmes
Firmando-se seguros, leais, ímpetos
Na verdade são hipócritas, fracos, incrédulos
Um precisa se apegar ao outro de forma tamanha
Desconsiderando o outro como propriedade privada
Mas tendo o outro como parte de seu próprio corpo
E aí eu pergunto: como não sentir nada por alguém
Que não é de você, mas é você?
Pobres desses namorados que se dizem apaixonados
Falam entornando a conversa em casamento
Já imaginando a festa, a noite nupcial, os filhos
Mas se beijam com bocas amarradas
Abraçam-se com punhos fechados
Amam-se pelo simples ato de se enganar.
Namorados que vivem um amor sóbrio
Quando na verdade o amor não tem moldes
Não se aprende o amor em cartilhas ou em novelas
Amar é mais profundo que física-quântica
E mais simples que um ?eu te amo?.
Tolos os namorados que se entregam
E não são dignos da entrega alheia
Tolos os que amam envoltos de cotidianos
Regados a gestos imutáveis, a noites comuns
A um presentinho numa data especial.
Amar é construir a cada momento
Uma nova maneira de ser
E de entender a pessoa amada
Tal qual se auto-compreender.
Os namorados devem se enamorar
Num encontro de mãos destoantes
De olhares desconhecidos
Passíveis ou não de serem descobertos
Num encontro de beijos desiguais
De abraços de outros mesmos braços
De um derrame de ciúme
De uma abundância de perdão
Sendo completamente instável
Porque o amor não é eterno
Não é uma história fechada
De um livro empoeirado no canto da estante.
Os casais de namorados são páginas soltas
Que narram um amor
Que ao longo dos anos
Tem inúmeras faces
E se assemelham nas diferenças
Fundindo-se
Na estrutura
Mais simples e mais complexa
Que se tem conhecimento:
Duas mãos dadas
E entre elas,
Num vácuo de realidade,
O amor.

O amor
Que nasce humano
E se faz sobre-humano
Nas desumanidades do tempo.


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