Daniel Campos

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05/11/2013 - Por onde andam

Por onde andam suas pernas
Seus joelhos
Suas juras eternas
Seus espelhos
Por onde andam sua barriga
Sua boca rouca
Seus amores e solidões
E sua figa
Por onde andam seus pés
Sua língua boba
Sua alma proba
E tudo o que tu és
Por onde andam sua taguagem
Seu piercing, seus brincos
Sua paisagem
Seu famigerado afinco
Por onde andam seus seios
Seus receios e anseios
E seus muitos anéis
E seus dois mil reis
Por onde anda seus cabelos
E suas coroas
Suas princesas à toas
E seus apelos
Por onde andam seus esmaltes
Suas saudades escarlates
Seus olhos de chocolate
Sua anti-realidade
Por onde andam seus beijos
Suas ilhas, suas filhas
Seus bocejos e lampejos
Suas presilhas e sapatilhas
Por onde andam seu cheiro
Sua luz, seu brilho
Seu último estribilho
Seu braseiro
Por onde andam sua vontade
Seu ninho
Sua divindade
Seu eu mais sozinho
Por onde andam seu ciúme
Seu queixume
Seu ardume
Sua cidade
Por onde andam suas ideias
Suas alquimias
Suas plateias
Suas tardes vazias
Por onde andam sua nudez
Suas pintinhas
Sua primeira e última vez
Suas entrelinhas
Por onde andam sua fala
Sua tara, sua ala
Seus elogios
Seus arrepios
Por onde andam seus lábios
Suas mil e uma imagens
Seus conselhos sábios
Suas chuvas e estiagens
Por onde andam suas aparições
Suas ordens e desordens
Suas molecagens
Suas provocações
Por onde andam suas preces
Seus enredos
Seus medos
E o que não esquece
Por onde andam sua ousadia
Suas estações
Suas elucubrações
Sua fantasia
Por onde andam seus riscos
Seus delírios
Seus martírios
Seus eus em rabiscos
Por onde andam suas fadas
Suas sapequices
Suas crendices
Suas gargalhadas
Por onde andam seus veleiros
Seus canteiros
Seus cativeiros
Suas metades, seus inteiros
Por onde andam seus vagalumes
Seus perfumes
Seus laços, seus passos
Seus desembaraços
Por onde andam suas tentações
Suas divagações
Suas imaginações
Seus sótãos, seus porões
Por onde andam seus bichinhos
Suas taças de vinho
Seus céus de vermute
E tudo mais que lhe incute
Por onde andam sua braveza
Sua aliança
Sua criança
Sua leveza
Por onde andam seu vício
Seu resquício
Seu porto
Seu vivo, seu morto
Por onde andam seus fantasminhas
Suas viagens sem fim
Suas voltas ao redor de mim
Suas camisolinhas
Por onde andam seus heróis
Seus lençóis
Seus si e mi bemóis
Suas maniazinhas
Por onde andam seu gostar
Seu eu amante
Seu eu distante
Seu vou pra onde me levar
Por onde andam seu lirismo
Sua entrega
Sua Las Vegas
Seu ludismo
Por onde andam seu assovio
Seu mar, seu rio
Seu eu sereia
Seu tempo areia
Por onde andam sua doçura
Seu espetáculo
Seus tentáculos
Sua louca candura
Por onde andam seus afagos
Sua nevralgia
Sua encantaria
E o que já não trago
Por onde andam seus teoremas
Seus dilemas
Suas práticas e teorias
Sua selvageria
Por onde andam seu instinto
Seu labirinto
Seu sangue romã
Seu pecado maçã
Por onde andam sua arte
Seu todo, sua parte
Seu par de asas
E o que lhe extravasa
Por onde andam sua bondade
Sua vitalidade
Seus aconselhamentos
Seus sentimentos
Por onde andam seu pulso
Seu curso
Seu calabouço
Seu milagre de bolso
Por onde andam suas armas
Sua saliva
Sua oitiva
Seus carmas
Por onde andam sua beleza
Seus guarda-costas
Seu eu em postas
Sua corte, sua nobreza
Por onde andam sua paixonite
Seus passos de vagonite
Sua estrela particular
Seu verbo amar
Por onde andam suas simpatias
Suas bruxarias
Seus guerreiros
Seus prisioneiros
Por onde andam sua cama
Seus pés, suas folhas
Suas ramas
Suas bolhas
Por onde andam suas historietas
Sua silhueta
Seu beicinho
Seu charminho
Por onde andam seus detalhes
Suas curvas, seus entalhes
Seus tremores
Suas dores
Por onde andam suas paixões
Suas mãos, suas linhas
Suas luas em canções
Suas calcinhas
Por onde andam seu querer-bem
Seus querer-mais
Seu querer-só e também
Seu querer-ir-além
Por onde andam seus enxovais
Suas latitudes
Suas longitudes
Suas atitudes
Por onde andam sua fome
Sua carência
Sua dormência
Seu nome
Por onde andam sua coragem
Seu ar de revolução
Sua bagagem
Sua imensidão
Por onde andam seu balé
Seu francês
Seu cafuné
Seus porquês
Por onde andam seus mistérios
Seus pecadilhos
Seus espartilhos
Seus impropérios
Por onde andam seus abusos
Seus intrusos
Seu perfeccionismo
Seu romantismo
Por onde andam seus folguedos
Seus flertes
Seus pivetes
Seus segredos
Por onde andam seu contorcionismo
Seu altruísmo
Suas acrobacias
Seu invencionismo
Por onde andam suas alegrias
Sua autoestima
Sua obraprima
Suas apologias
Por onde andam seu bom gosto
Seu rosto
Suas costas
Suas amostras
Por onde andam suas frases
Suas vírgulas, suas crases
Suas fases
Suas lacunas
Por onde andam suas dunas
Suas marés
Seus contrapés
Por onde andam suas verdades
Seu horizonte
Seus montes
Suas imaterialidades
Por onde andam suas delícias
Suas inocências
Suas indecências
Suas malícias
Por onde andam sua trama
Sua chama
Sua alma liberta
Sua expressão predileta
Por onde andam seu batom
Seu som
Sua manhã
Seu linho, sua lã
Por onde andam suas crias
Suas criações
Suas poucas e muitas alegrias
Suas elucubrações
Por onde andam seus jardins
Seus clarins
Sua quentura, sua candura
Sua ternura
Por onde andam seus leques
Seus adereços
Sua vida sem preço
Suas estrelas de pileque
Por onde andam suas vinícolas
Seus ombros, seus tombos
Suas clavículas
Seus escombros
Por onde andam suas perdições
Suas condições
Suas preposições
Suas procissões
Por onde andam seus fêmures
Suas lêmures
Seus argumentos
Seus firmamentos
Por onde andam seu rapto
Sua sobrevivência
Sua maledicência
Seu último pacto
Por onde andam seus dentes
Seu sorriso, sua mordedura
Sua fala leve, sua fala dura
Seus afagos, seus presentes
Por onde andam suas fossas
Suas poças
D’água
De mágoas
Por onde andam seus donos
Seus maiores abandonos
Seus errantes
Seus amantes
Por onde andam seu ventre
Seu eu complacente
Seu espírito de roça
Seu “nossa”
Por onde andam sua sombra
Sua luz e tudo o que zomba
E sua adivinhação
E sua mansidão
Por onde andam seu azul
Seu magenta, seu amarelo
Seu norte, seu sul
Seu tom caramelo
Por onde andam suas conversas
Seus autos, suas peças
Seu balançar
Seu mais que amar
Por onde andam suas soluções
Suas andações
Suas vasculhações
Suas descobrições
Por onde andam seus retratos
Seu sono constante
Sua vontade de ir avante
Seus
Por onde andam suas aberturas
Suas ranhuras
Suas pupilas de abismo
Seu amorcentrismo
Por onde andam suas cruzas
De pernas, braços e dedos
Seus enredos
E suas escusas
Por onde andam seus linhos
Suas linhas, seus botões
Seus pergaminhos
Suas saudações
Por onde andam seus estatutos
Suas regras, seus atributos
Seu eu sempre confiável
Sua memória inviolável
Por onde andam seu reflexo
Seu côncavo, seu convexo
Seu nexo, seu sexo
Seu ser perplexo
Por onde andam seu sabor
Seu ponto e contraponto
Seu calor
Seu conto
Por onde anda sua dó
Com este que anda só
E desanda
Já que contigo não anda.


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