Poeta que sou
Que me perdoem
Os parnasianos e os clássicos
Que me perdoem Bilac e Camões
Perdoem-me os métricos
E todos os filósofos da poesia
Mas eu sou poeta de sentimento
Poeta que não tem medida
Nem qualquer definição explicativa
Poeta que se entrega ao papel
Em um sentimento
Que tem ritmo próprio
Ou não tem ritmo e esse é meu ritmo
E se ele desafinar
E se ele atravessar
E se ele virar
Quem é que pode contestá-lo?
Sou portador de um sentimento
Que não tem forma
E nem deforma a criatura amada
Sou um poeta popular
Daquele que pode ser
Cantado à meia luz num bar
Ou lido sob o sol
Ou declamado às estrelas
E dentre essas estrelas, por favor, não nos esqueçamos da lua
Sou daqueles poetas que acham que a lua é uma estrela
Mulher e fêmea
E não um satélite ou coisa parecida.
O sentimento que me faz poeta
Tem muito mais variações
Do que as permitidas pela gramática
E até das sabidas pela física eletrostática
E licença poética
Mais do que um escrever errado
É o texto que os deuses encontraram
Para língua e sentimento andarem lado a lado.
Não tenho pretensões de meus poemas serem
Estudados em salas de aula
Defendidos em bancas de mestrado
Cobrados em prova
Como a última flor do Lácio
Quero que meus poemas
Sejam doídos aos amantes que como eu
Vivem de um amor que não cabe em palavras,
Quero meus poemas
Como pano de fundo de árvores
De cotidianos
De homens e mulheres
Suburbanos,
Quero os meus poemas
Nas bocas
Daqueles que sabem
Que a vida é muito mais
Do que as críticas
Dos professores
Dos censores
Dos doutores,
Quero que os meus poemas
Façam chorar
Causem emoções não diagnosticadas
Aflorem coisas intimas
Que rompam os limites da academia
Afinal, meus poemas não tem utilidade alguma
Senão a de darem vida a outros sentimentos
Sentimentos que, como poeta, não controlo
Aliás, eu os descontrolo
Em meu colo.
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