Piano só
A saudade
É a maldade
De um piano só
Caído no choro da vela
Como a perna de um dó
Pendurada na partitura
Amarela
Do seu decote dominó
A saudade
Provoca tontura
E enclausura
Numa espécie de xilindró
Onde o amor curió
Canta nossa cavalgadura
Pela terra
Dos afluentes do tapajó
E da paixão de um faraó
Que berra
Em nossos ouvidos
O tom dos gemidos
Do prazer do amanhecer
Do galo carijó
A saudade corta
Em sua envergadura
E nos bamboleia
Em sua cintura
E nos incendeia
E nos bate a porta
Na loucura
De uma ditadura
Que enlaça
Nossas vidas
E nossas despedidas
Em um mesmo nó
Nas notas
Poliglotas
De um piano só.
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