Daniel Campos

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Imagine, imagine

Imagine a mulher amada de pés descalços
Como se acabasse de levantar da cama
E fosse até a janela em busca de um horizonte
Turquesa
E que muitas vezes
Tivesse que conter um desejo tênue
Entre o suicídio e o romantismo
De se entregar aquele horizonte.

Imagine a mulher amada de pés descalços
Como se deixasse o mar
E caminhasse por uma areia fina e branca
E em seu caminhar
Netuno, o deus do mar,
Precipitaria a maré cheia
Ao longo das ondas
Só para roubar suas pegadas.

Imagine a mulher amada de pés descalços
Como se andasse pelas sobras da chuva
Poça a poça com dezenas de sorrisos infantis
Correndo e pulando e saltitando pela sua boca
E depois, num contentamento pleno
Deixar-se-ia escorrer ao entregar seus pés
À enxurrada feito um barquinho de papel.

Imagine a mulher amada de pés descalços
Caminhando pelas suas costas
Sem qualquer pretexto
Caminhando pelo marfim das notas
Pretas e brancas
De um piano
E para desespero, dançaria
Imagine a mulher amada de pés descalços
E dimensione a solidão de seus saltos
Que ficam sozinhos
Debaixo da cama
Quase mortos
Se não pela lembrança
De caminhos passados.


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