Gerúndio
A rede balançando sozinha na varanda
O gado mugindo como manchas no pasto
O cheiro de capim molhando a última chuva
O céu rabiscando a si próprio ao fim da tarde
O cachorro correndo em busca do nada
A brasa do fogão à lenha cheirando pão
A gordura borbulhando bolinhos de chuva
O café preto acompanhando o leite
A bem-te-vi cantando diferente
O trator arando uma terra empoeirada
O canto se despedindo do galo carijó
Os pés andando descalços no carreador
A boca dos leitões vertendo o leite da porca
As árvores reumáticas se dobrando ao vento
Os sapos assobiando a canção do brejo
O violão virando na agulha da vitrola
A lua aparecendo meio transparente
E a rede ganhando o meu corpo
O meu corpo ganhando as suas mãos
As suas mãos chegando lentamente
Deixando olhares anoitecidos
Mareando sua blusa desabotoada.
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