Filha
Detrás da porta
Entreaberta
Que nunca fechei
Me olharia
Deserta
Entre bonecas
Batizadas com os nomes
Das mulheres que nunca beijei.
Me olharia
Inocente
E sapeca
E carente
E moleca.
Me olharia
Nas voltas de um retrós
E de repente
Numa ânsia
Corrente
Assumiria
A distância
Morrente
Entre nós.
Me olharia
Afônica
E me julgaria
Toda anacrônica
E de forma tão tônica
Feito a crônica
Pitoresca
Que eu nunca escrevi.
Me olharia
De vestido
De pés descalços
De pele fresca
Como nunca a senti
E tão logo me olhasse
E tão logo me amasse
Entortaria
Meus olhos de aço
Em tua ciranda.
Me olharia
Preta e branca feito panda
E grudaria em meu pescoço
Em meu dorso
Em meus lampejos
E me levaria ao chão
Numa curva ascendente de beijos
Cadentes de não.
Me olharia
E seria a mocinha
Dos filmes que não vi.
E seria a protagonista
Dos livros que não li.
E seria a rainha
Dos castelos que não percorri.
E seria a equilibrista
Dos circos que me esqueci.
Me olharia
Menina
Nos sabores nas cores
Que o último amante
Lhe trouxe
Algodão doce
Roda gigante
Coisa pequenina.
Me olharia
Como fênix arredia
E me queimaria
E me reviraria
E me renasceria.
Me olharia
E voaria
Por detrás
Das minhas portas
Entreabertas.
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