Daniel Campos

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Eroscentrismo

Quero que todos sumam
Desapareçam no olho de vidro de um furacão
Pirata da perna de pau
Não importa nome, sobrenome
Parentesco
Primeiro, segundo, terceiro grau
O que vale é o inferno dantesco
Que some
De nossas vidas

Não é necessário haver despedidas
Basta que sumam mundos
E fundos em segundos
Basta que os cordões umbilicais
E artificiais
Sejam cortados
E no mais
Que o passado
Dessa gente que desde já deve se fazer ausente
Seja amarrado
Calado
E sepultado
Numa cova funda
Sob um tempo corcunda

Ah! Com a cidade deserta
E quieta
Vou poder amá-la por inteiro
Fazer de nosso romance o viveiro
Perfeito
Esqueça o amor estreito
Secreto, discreto
Vamos abrir o peito
Às vigas do exagero
Só duas formigas
Já fazem um formigueiro

Chega de telefonemas
De batidas nas portas
Chega de itinerários
Alheios ao coração
Eu quero todos os seus horários
Eu quero suas horas mortas
Eu quero ser sua única direção
Faço suas vontades
Mato suas saudades
Mas quero ser sua única realidade
Chega de divisões
De frações
Dessa ideologia de partilha

Quero-a na alegria de uma ilha
Solitária
Fora do mapa físico e astral
Quero grilar toda sua área
E amá-la de forma tridimensional
Pelo direito e pelo avesso
Sou o seu e é o meu endereço
Visceral

Ah! Que venham as tempestades
Que venham os vulcões, o eclipse
Que venham as criaturas do apocalipse
Que venham todas as divindades
A criar, abençoar e idolatrar
Nosso paraíso
Que todo guizo
Seja levado
Que todo juízo
Seja exorcizado
Que todo riso
Seja lavado
Para que não exista mais nada
Nada, nada, nada, nada, nada
Além de nós

Que os corvos nos deixem a sós
Nessa estrada
De destino e pó
Que as minhas palavras
Sejam ouvidas somente por seus ouvidos
Que as clavas
De sol, mi e fá sejam só os seus gemidos
Que a terra morra a mingua
Enquanto minha língua
Encontra a sua língua

Que a primavera
Seja de uma só flor
A sua flor
E que de uma vez por todas
O profeta
Declare aberta
A era
Do nosso amor

Ah! E que venha a semente
De um novo poente
Ah! E que sob uma outra lente
Surja uma nova mente
Ah! E que o ato de mar invente
Um novo presente

Que o nosso sentimento
Depois do teocentrismo
E do antropocentrismo
Seja cal e cimento
Na construção
Do eroscentrismo

Ah! Não fale, não pense, não ouça, não veja
Apenas sinta e seja
O eros que urge, que ruge, que surge
Esqueça o mundo lá fora

Ao menos cá e agora
Dentro
Do meu verso
Somos o centro
Do universo.


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