28/03/2015 - E veio a lua
Eu não vi mais nada, absolutamente nada,
Quando a lua apareceu nua no meio da rua
Para falar comigo sobre minhas luas de mel
Eu, altaneiro das núpcias, dividindo a estrada
Com a lua prateada de São Jorge Guerreiro
Falando do amor e do que é o apaixonar
A lua veio com cheiro de flor e rodeada
De estrelas a lhe bajular e lhe enfeitar
Eu que sempre fitei de longe seu crepom
Via agora tão próxima sua seda batom
Quis seu colo, qui-la na minha cama
E ela, como rama que é, foi crescendo
Em mim numa espécie de mulher sem fim
Envolvendo-me em sua realidade espacial
Chamando minha espera às suas crateras
Era feita não de queijo ou de isopor
Mas do mais profundo amor demais
Em linhas e versos numa prosa tão minha
Numa poética rainha numa dialética sozinha
Mesmo fria era de uma beleza quente
Nascente e poente no mesmo ser de querer
Foi minguando, crescendo, inovando,
Enchendo e preenchendo o meu eu
E sem maiores volteios disse que veio
Para me sagrar e consagrar seu cavaleiro
Como merecimento por anos de vigília
Eu, o náufrago da paixão, ela, a ilha,
A filha do tempo, a deusa-sentimento,
A vela que queima para os apaixonados
A amálgama sagrada que compõe os dardos
Dos cupidos. Lua dos gemidos sustenidos
Dos cães anoitecidos, dos lobos famintos
Do mais puro desejo que sinto. Do absinto.
E me embaralhando em seus véus
Voltou a morar no alto do sétimo céu
Como que se deixando em mim de uma vez
Por todas, eu gestando, carregando a lua
Em seus quartos rumo a um universo de partos
Numa cerebral sentimental surreal gravidez
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