Daniel Campos

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Do fundo dos olhos

Aquela mulher que me olhava
Do fundo dos olhos
Olhava-me em outros universos
Sem remorso de qualquer culpa e sem rancor.

Aquela mulher que me olhava
Do fundo dos olhos
Olhava-me entre o pecado e o perdão
E pregava palavras não ditas
E me olhava
E me tomava
Sem açúcar
E sem gelo.

Aquela mulher que me olhava
Do fundo dos olhos
Olhava-me paralela e perpendicularmente
Olhava-me em eclipses
De lua e de plutão
Olhava-me de forma inteira
Tímida e absurdamente
Louca.

Aquela mulher que me olhava
Do fundo dos olhos
Olhava-me em um tempo futuro
Que custava a chegar
E me levava para perto
Das suas meninas
Que moravam em seus olhos
Em seus olhos fundos.

Aquela mulher que me olhava
Dos seus olhos fundos
Olhava-me no amarelo castanho
Das castanhas
Européias
Que eu nunca provei
E que grávido
Sempre desejei.

Aquela mulher que me olhava
Do fundo dos olhos
Olhava-me em cinco dimensões
Sumia pela minha noite
E amanhecia em meus olhares
Fugidos
Foragidos
Sumidos
De algum lugar
Que eu não sei.

Aquela mulher que me olhava
Do fundo dos olhos
Olhava-me na rotação de um beijo
Na emoção final de um drama
Olhava-me acesa
Feito vela
Feito lâmpada
Feito a pedra
Do anel que nunca achei.

Aquela mulher que me olhava
Do fundo dos olhos
Olhava-me feito uma ilha
Sozinha
E cercada
E isolada
E molhada de olhares.


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