Daniel Campos

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Confissão acerca da mulher amada

O mundo pode espernear
Esbravejar
Fazer birra em coro
Aos ateus de um amor maior
Mas eu afirmo
Em alto som
Sóbrio de mim
Que durante todos esses anos
Só tive uma inspiração
Uma única mulher a conduzir
Minhas mãos sobre o papel branco
Repito friso grifo sublinho destaco
Uma única mulher
Desde a minha primeira
Até minha mais recém nascida
Poesia
Sempre busquei a mulher amada
Mesmo sem conhecer seu rosto
Sonhei no fundo de seus olhos
Durante todo esse tempo
Isso mesmo: sonhei
E me debrucei
E chorei
Na esperança certa de encontrá-la
Por mais que os caminhos fossem tortos
Até aqui
Tinha a certeza de que mais dia
Menos dia
Iria achá-la
E achei
Mas mesmo a tento achado
A descoberta não cessa
Mágica
Milagre
Destino
Dêem o nome que quiser
O que vos bendigo
É o fato de que todos os meus poemas
Foram escritos par uma só mulher
Muitos irão me condenar
Muitos irão me dizer o contrário
Muitos irão desacreditar
Mas peguei poema por poema
E descubro pedaço por pedaço
A plenitude da minha mulher amada
Mulher que tem tempo, dimensão e espaço
Próprios
Mas que me levam a uma busca
Sobre-humana
Foi por ela que remei
Nos versos
Pelo direito e pelo avesso
De mim
E quanta vela
E quanto choro
Ao longo dessa espera
Muitos nomes dei aos poemas
No desespero de achar teu nome
Mas não errei
Porque a mulher amada
Guarda em si não só os nomes
Mas todas as mulheres
Porque só a mulher amada é plena, é inteira,
É sobretodas as coisas
Só a mulher amada
Amortiza e cala todo desejo infindo
Todas as bocas
Todos os olhares
Todos os passos
Habitam a mulher amada
É como se todas as outras criaturas
Fêmeas por natureza
Fossem artifícios do tempo
Meras mensageiras
A nos falar
Em silêncios em parábolas em conversas fiadas
O advento da mulher amada
Na mulher amada
Nascem e morrem todas as mulheres
Em seu colo
O sonho, o sabor e o destino
Afloram num mesmo perfume
Entre o anjo e o demônio
Há uma brecha
Por onde surge a mulher amada
Surge quando menos se espera
Surge depois de muita espera
Surge ainda em espera
Surge clara e arranca todas as dúvidas
De quem é e a que veio
Num único sopro
Sopro de que foi a minha inspiração
Durante todos esses anos
A mulher o qual devo minha colheita
De poemas
E meu sentimento
Por isso, como oferenda de sangue e poesia
Ofereço-me à mulher amada
Que abre e fecha
As estradas do meu dia.


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