Daniel Campos

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Chove lá fora

Chove lá fora
Chove na cigarra
Que algazarra ao se matar
Chove lá fora
Chove nas janelas
E nas velas de além-mar
Chove lá fora
Chove nos que passeiam
Chove nos que se tateiam
Chove nos que se estonteiam
Chove nas entranhas que rodeiam
Os bêbados que tonteiam
Chove nas aranhas que tenteiam
Em suas teias um novo destino
Chove no desatino
Chove no desatento
Chove no agourento
Que quer o sol de volta.
Chove nas voltas
Dos ponteiros do despertador
Que desperta o nosso furor
Chove nos que tem calor
Chove nos que buscam sabor
Chove nos que derramam cor
Chove lá fora
Chove numa febre de catapora
Chove no verso do caipora
Chove em quem a chuva ignora
Chove no vermelho da amora
Chove lá fora
Chove na saudade ao meu lado
Chove no telhado
Chove no molhado
Chove no passado
Que goteja
Como alguém que chora
Ai, chove lá fora
No demônio e na igreja
Ai, chove lá fora
E aqui dentro
Aflora o nosso rebento
Ai, chove lá fora
E que deus nos proteja!


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