10/07/2014 - Beija meus pés
Que as bocas que me desgraçaram
E que me amaram
Por muito ou nada de tempo
Beijem não os meus lábios,
Meu pescoço ou meu peito
Mas que beijem meus pés
Não! Não os beijem por servidão
Por descabimento ou respeito
Mas sim porque nos pés
(Dedos, planta, dorso)
Estão o segredo de tudo
A chave da vida
O vai e vem do universo...
São meus pés que me levam
Que me trazem pelos caminhos
Do que não sou, já fui e posso ser
São meus pés que me levam
Pelos caminhos de corações batidos
Ladrilhados, esburacados,
Meus pés pisam em nuvens
Só não pisam na lua para não feri-la
Mas pulam de estrela em estrela
Andam pelo teto e se contorcem
Fazendo-me novamente feto
Porque eu nasço a cada paixão
Eu renasço de beijo em beijo
E morro se de amor morrer preciso for
Numa caminhadura de adeus...
Sim! Vida e morte estão nos pés
Idas e vindas, chegadas e partidas
Começos, finais, recomeços
Ah! Com o são desprezados,
Desamparados e mal-amados os pés
Da humanidade,
Beijam os pés de resina dos santos
E cospem nos pés de carne...
Pés! Pés! Pés!
Eu sempre fiz questão de reverenciá-los
De niná-los e de acordá-los,
De carregá-los em meus passos...
Ah! Os pés da mulher amada
Foram sempre joias em minhas mãos
Em meus lábios, em minhas escritas...
Beija, beija, beija meus pés de prosa e poesia
São dois mais tantos pés que formam
Um pomar, uma plantação, uma floresta
De fantasia
Sim, sou sustentado por pés de fantasia...
Hoje ao olhar para meus próprios pés
Vejo-os com vontade de correr mundo
De sair do lugar comum que nunca bem me fez
Meus pés têm fome, argumentos e desejos
Às vezes são raízes e em todas as outras, asas
E guardam a missão de cumprir as linhas
Tortas ou não do meu destino...
Meus pés têm pressa e pouquíssima paciência
E fartas doses de decência
Contêm a efervescência do que me move
Faltam tantas línguas e lambem como tais...
Ah! Meus pés sentem a necessidade de movimento
São pés teimosos, sestrosos e tinhosos
Quando o assunto é sonho
Por isso trilham direções pouco compreensíveis à razão,
Que importa faze sentido? De que vale ser entendido?
Para que caminhar temendo curvas, declives, bifurcações?
Meus pés não têm medo de ir rompendo seja lá o que for
Meus pés se vão ou ficam atraídos pelo amor
Num magnetismo animal, piramidal, surreal
Não me arrependo de me deixar guiar por eles
Por dias afora e noites sem demora
E hoje, mais uma vez, dão-me o comichão de seguir
De sair do lugar comum ao qual não pertenço...
Que as bocas que me desgraçaram ou me amaram
De forma verdadeira ou mentirosa
Escolham entre beijar os meus pés
Ou os rastros que logo deles serão nascidos
Comentários
Nossa que cacetada Pesado mas muito lindo Fico impressionada com você
Está inspiradíssimo!!
Isso que é amor
lindo lindo lindo
Adorei seu site. Tudo é poesia. Escreve com a alma.
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