Daniel Campos

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Amém

Mexe para lá
Mexe para cá
Coloca isso
Coloca aquilo
Fala falações
Provoca e invoca
Seres e paixões
Sacode e acode
Costura um coração
De tontura e ilusão
E que haja
Olhos de gata
À lua
E um que de gatuna
Nessa mistura.

Que haja asas
E muito colo
E uma temperatura
De 38 graus celsius
Uma leve febre
Que provoque
Arrepios
E ainda mais
Vontade de se aquecer
Junto à pele
Alheia
Que já não é tão alheia assim.

Nas voltas do caldeirão
Em ebulição
Que haja as quatro
Cores
De uma libélula
No momento exato
Em que pousa
Na curva da orelha
Desejada.

Que haja um andar perpendicular
Sempre se emaranhando
Com outro andar
Em fortunas e infortúnios.
Que haja um ritmo
Íntimo
Nessa receita
Dona de um afroditismo
Caseiro.
Que haja muito encanto
Nesse balançado
E muita feitiçaria
Vinda dos porões
Da língua
Vermelha de pudor e ciúme.

Que as palavras
Sejam professadas
Baixa e sutilmente
E que apenas insinuem
O amor sentido.

Que haja velas
De glicerina
E ervas
Do cerrado (que mora ao lado)
Ou do mar mais próximo
Que quebra suas ondas
Em costas surfistas
E tatuadas
De lábios e mordeduras.

Que haja um redemoinho
De perfumes
Digno de tonturas
E que ao cair nesse caldeirão
Caia em pé
Como a felina
Que lhe habita
Em noite de eclipse.
E que assim seja.


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