Daniel Campos

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12/03/2016 - A lenda da cobra alada

Com asas e presas
Voava e serpenteava
Espantando, cobiçando
E levando à loucura
A hipócrita realeza.

A estranha criatura
Mulher, ave e cobra
Num esqueleto só
Tinha veneno de sobra
E uma vida de dar dó.

Se picava, se furava,
E se auto-flagelava,
Por prazer e deleite
E amava e desejava
Um corpo esgotado
De tanto querer.

E ela abusou
E se entregou
À própria sorte
Rindo da morte
Inconsciente
De que seu poder
Era reflexo do passado
E que o fim, enfim,
Estava prestes a chegar.

E num dia ensolarado
Ardente e fugaz
A fome a deu coragem
Para vencer
A deliragem e abocanhar
No mato um rato,
Coitado do rapaz.

Ela se encheu de si
Abriu olhos e asas
E voou como colibri
Sua determinação foi rasa
Demais perto do desejo
De sentir seu veneno.

Como apaixonado
Que não vive sem beijo
Como pássaro
Que não vive sem realejo
Ela afundou seus dentes
De aço e libertou o fel
Fazendo do céu sua cova.

Sob um girassol pequeno
O rato escapou
A cobra se estatelou
E ainda tonta engoliu
O próprio rabo
Para dar cabo
Do prazer que a consumiu.

Entre fantasias e nevralgias
De um dia condenado
Ao faz de conta
A cobra sumiu
E não sobrou sinal ou prova
De que um dia ela existiu.


Comentários

14/03/2016, por Samy:

Parabéns, muito boa


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