A cidade perdida
Quem conhece a cidade perdida da mulher de olhar lilás
Deveria mendigar pela morte
Porque nada mais que for visto
Sentido ou sonhado
Terá a mesma intensidade
Quiçá um sabor parecido
Depois da mulher de olhar lilás
Nada mais será novo
A vida se torna inédita na cidade perdida
De uma mulher de olhar lilás.
Ali, por maior que seja a coleção de aventuras
Do passado ou até de vidas passadas
Tem-se a certeza de que nada foi vivido
Por completo.
Como uma fonte da juventude
Ali, na cidade perdida da mulher de olhar lilás,
Você renasce e se o mergulho for tanto, nasce
Outra vez ou pela primeira vez.
Fora ali, no centro da cidade lilás,
Que pousara a fênix
Das histórias da nossa imaginação.
Ah! Na cidade perdida da mulher de olhar lilás
Há dezenas de arranha-céus que arranham
Uma atmosfera lilás,
Há casas com muros baixos, cadeiras na calçada
E rosas em penca no jardim das rosas lilás,
Há avenidas e ruelas que nos levam e trazem
Aos mais diversos sentimentos lilás.
Naquela cidade, o amor é lilás, a saudade é lilás
O outono é lilás, o prazer é lilás, a ilusão é lilás
A vontade é lilás, o silêncio é lilás e a dor
Deixa de ser dor só para ser lilás.
A cidade perdida da mulher de olhar lilás
Não tem endereço certo
Tampouco está no mapa dos geógrafos ou dos astrólogos
Ou ainda nas caixas de lápis de cor.
Na cidade perdida da mulher de olhar lilás
O tempo que corre ao seu tempo é lilás
A estrela que é a estrela de seu céu é lilás
O mar que mareja em brisa é lilás
A pedra do altar da igreja é lilás
O vaga-lume vaga sob um lume lilás
O pêssego cheira um perfume lilás
O assovio assovia lilás.
Na cidade perdida de uma mulher de olhar lilás
Tudo já nasce lilás
E quanto mais maduro
Mais lilás o gosto o tom o cheiro
Da fruta da folha da semente
Até a temperatura da cidade é lilás
Assim como a pulsação e a pressão arterial.
A cidade perdida da mulher de olhar lilás
Deve ser conquistada
Mas não conquista à força
A não ser que a mulher de olhar lilás
Lhe peça força.
A cidade perdida
Deve ser conquistada com palavras
Olhares e gestos lilás.
Na cidade perdida da mulher de olhar lilás
O lilás deixa de ser uma cor
Para ser um desejo
Um desejo que se expõe e se esconde
Ao mesmo momento,
Momento lilás.
A cidade perdida da mulher de olhar lilás
Fica perdida entre o vento lilás
E o alento fugaz
Que como guardiões lilás
Guardam o ventre da mulher amada
Que pari a lua lilás da imaginação lilás
Que sobe feito um balão de gás.
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