Um eu que ama
Quem sou eu? Eu? Um eu que ama. Ama o mundo. Ama a conjuntura existente no cruzar de pernas das palavras. De preferência, que as palavras estejam de saia. Um eu que ama a lua que mingua para ser nova. Ama o romance das letras, suas paixões e traições. Sou alguém que nasceu de uma licença poética. Sou quem escreve para o meu próprio alguém, para outro alguém e, outras vezes, pra ninguém.
Contos, crônicas, poemas... O texto me habita e eu habito as gavetas. As gavetas da minha escrivaninha. As gavetas da minha memória. As gavetas das retinas de quem se aventura a entrar em meu mundo. Meu mundo de palavras. Sou quem escreve sobre aquele olhar da menina que parece distante, sobre aquela última decisão política e sobre a guerra de um país que só conheço daquele globo redondo e mágico que ficava sobre a mesa da minha professora de geografia da sétima série.
Sou eu um observador dos movimentos do mundo. Em cada um desses 360º diários há tanto para se produzir, para se espreitar, para se contemplar. Eu sou um mundo que gira à procura do casamento perfeito entre a poesia e o sentimento. Eu sou o que me contraria, o que eu criei e o tanto que ainda há para sonhar. Sou eu um escavador de sonhos adormecidos em corpos estranhos.
Poeta, cronista, romancista, jornalista... Sou essa jornada incessante à procura de um universo recém descoberto para contar. Real ou fictício, não importa. Se pudesse colocaria em minha carteira de trabalho: profissão - poeta. Sou eu quem se abriga em outros olhos. Sou eu uma espécie de mágico, de bruxo, de feiticeiro das palavras. Com palavras, faço-me forte.
Eu construo. Eu emociono. Eu seduzo. Eu testemunho. Eu mostro. Eu dou à luz às personagens que resguardo no útero da minha imaginação. Eu coloco o sonho nas mãos de alguém enquanto estupro a realidade desse mesmo alguém. Eu sou o que alguns buscam ler pela manhã por entre xícaras de café e sou o que outros procuram ler, entre lençóis e travesseiros, sob a luz fraca de um abajur de domingo. Eu sou o que nasce para se entregar. Sou a imagem, o som, o cheiro, a textura, o desejo da palavra.
Sou uma mistura de sentimentos batidos à mão, como aquele bolo feito pelo estereotipo perfeito de avó. Sou linhas que vão além das linhas das mãos. Sou o suspense, o drama, a tragédia... Sou o sonhador. Talvez, o último. Sou eu quem sofre e sonha. Sou eu um escultor de sentimentos; sou eu quem engravida as palavras; sou eu uma criatura vestida da nudez de uma razão maior...
Uma razão maior chamada poesia. E como já dito, bendito ou maldito, o prazer é poesia. E da poesia eu não me divorcio, nem amigavelmente nem litigiosamente. E se isso tudo não for literatura, que me perdoem os acadêmicos. Com a licença dos literatos, eu sou poesia em verso ou em linha. Em linha de frente, em linha de prosa, em linha de destino.
Comentários
Olá, Daniel! Pelo pouco que pude conferir de suas obras, percebi que são realmente muito boas. Também gostaria de publicar minhas poesias um dia e compartilhá-las com outras pessoas. Paz e saúde para você. Vanessa Rodrigues.
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