Daniel Campos

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Vou lhe esperar

Vou lhe esperar até o amor desistir de se fazer de amor. Vou lhe esperar sem marcar datas em agendas para não ter que contar dias ou remarcar datas. Vou lhe esperar sem ter as mãos algemadas. Vou lhe esperar como nunca ousaram usar o verbo esperar. Vou lhe esperar sem prazo determinado. Vou lhe esperar para além dos trópicos. Vou lhe esperar de um jeito que nem o tempo saiba entender. Vou lhe esperar, mas vou precisar de alguns olhares pelo caminho (olhares seus). Vou lhe esperar tendo a companhia de tinta e papel. Palavra por palavra, vou lhe esperar.

Vou lhe esperar e ninguém vai me dizer o contrário. Vou lhe esperar nos lábios de relento da solidão. Vou lhe esperar mesmo que as linhas dos astros me digam não. Vou lhe esperar com fotografia do passado. Vou lhe esperar silenciosamente. Vou lhe esperar e formar um deserto de dias ao meu redor. Vou lhe esperar com todo o respeito. Vou lhe esperar e me perder de mim, para só depois, com você, voltar a me encontrar. Vou lhe esperar e visitar o último estágio da meditação.

Vou lhe esperar com a promessa de ser somente desta espera. Vou lhe esperar abraçado com minhas dores. Vou lhe esperar tombado sobre a fantasia que criei. Vou lhe esperar e fazer desta espera uma criatura bonita, viva. Vou lhe esperar e jamais reclamar dessa espera. Vou lhe esperar sem saber se um dia você virá (ao menos para se despedir de mim). Vou lhe esperar porque sempre vai haver um motivo, um ânimo, um porquê. A cada despedida, vou lhe esperar. Vou lhe esperar e satisfazer essa espera.

Vou lhe esperar e lhe fazer cada vez mais perto. Vou lhe esperar no portão, na rua, no terraço. Vou lhe esperar enquanto aprendo a viver. Vou lhe esperar e querer apenas lhe esperar. Vou lhe esperar e me deixar esperar. Vou lhe esperar sem marcar um caminho de volta. Vou lhe esperar e tentar lhe proteger da minha espera. Vou lhe esperar e fazer de tudo para não deixar essa espera amarga. Vou lhe esperar e não deixar as flores murcharem de tão cansadas. Vou lhe esperar em serenata. Por toda a vida, vou lhe esperar.

Vou lhe esperar e se preciso for, casar-me-ei com essa espera. Vou lhe esperar ansioso, mas com toda a calma necessária. Vou lhe esperar demais. Mesmo que for preciso lhe esquecer a cada dia, vou lhe esperar. Vou lhe esperar porque preciso. Vou lhe esperar, agradecido por, ao menos, me deixar lhe esperar. Vou lhe esperar com a fidelidade de uma promessa. Vou lhe esperar e que ninguém pense ser isso um castigo. Vou lhe esperar e tentar encontrar a felicidade dessa espera.

Vou lhe esperar como quem marca a página de um romance e a relê todos os dias. Vou lhe esperar e esta vai ser a minha confissão: a espera. Vou lhe esperar de improviso. Vou lhe esperar como os sonhadores esperam estrelas cadentes. Vou lhe esperar e conviver em paz com o medo. Vou lhe esperar e convida-la a esperar comigo. Vou lhe esperar como quando lhe esperei pela primeira vez. Vou lhe esperar tendo a consciência de que você nunca foi embora. Vou lhe esperar e fazer desta espera a minha identidade. Vou lhe esperar sem incomodar ninguém, nem mesmo você.

Vou lhe espera sem qualquer cobrança. Vou lhe esperar e guardar tudo o que sobrar de mim em um feche de papel. Com doses e mais doses de fantasia, vou lhe esperar. Vou lhe esperar e não se preocupe comigo, tampouco com a minha espera. Vou lhe esperar e me transformar nessa espera. Vou, vou lhe esperar.


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