Daniel Campos

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02/07/2008 - Vontade de Milton Nascimento

Vontade de pegar a boléia de um caminhão e dar um baile nos bailes da vida. Vontade de escalar as várias pontas de uma estrela. Vontade de abraçar o mundo na ternura e na dor. Vontade de jogar bola de meia, bola de gude. Vontade de cantar uma canção da América. Vontade de trabalhar o sal no amor e no suor que me sai. Vontade de chegar ao clube da esquina e ver que a vida se cansa na esquina. Vontade de não entender a saudade de um caminho que há muito se acabou. Vontade de ter um coração de estudante para falar de uma coisa que deve estar dentro do peito ou caminha pelo ar.

Vontade de mudar a lógica de uma vida de encontros e despedidas, partindo nos trens da chegada e chegando nos trens da partida. Vontade de ser altar, de ser louva-a-Deus, de ser cavaleiro dos céus. Vontade de saber notícias do Brasil. Vontade de cair no cio da terra, debulhando o trigo e se fartando de pão. Vontade de eu parar de me doer. Vontade de me transformar em um vendedor de sonhos. Vontade de saber como um peixe vivo pode viver fora da água fria. Vontade de morar em um Planeta Blue. Vontade de ir para a ponta da areia para o ponto final. Vontade de soltar a voz nas estradas, pelos meus caminhos de pedra, e fazer a travessia.

Vontade de respirar as utopias de um coração civil. Vontade de olhar mais para mim, dentro do meu sentimento. Vontade de o meu pai afastar de mim esse cálice, de vinho tinto de sangue. Vontade de cantar e buscar o caminho que vai dar no sol. Vontade de ir para a terceira margem do rio. Vontade de gritar: a lua girou, a lua girou, a lua girou. Vontade de navegar para sempre a barca dos amantes. Vontade de separar a lágrima e o rio. Vontade de saciar a sede do peixe. Vontade de entender o bicho-homem. Vontade de dizer que o destino não tem rumo, ao menos, quando se escuta Milton Nascimento.

Observação do autor: Este texto foi edificado com nomes de música e alguns versos de Milton Nascimento.


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