Daniel Campos

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12/04/2011 - Viveiro da tristeza

Pare! Pare de pensar, de ler, de jogar, de cantar, de querer e de tudo o mais que faça ou possa vir a fazer neste e nos próximos instantes e atente-se para a tristeza da mulher que floresce tão linda e desesperada como flor no inverno. Seu olhar luminoso e triste, como uma gema de opala, nasce entre o espanto e o encanto com uma desenvoltura capaz de acabar de pronto com a pequenez do cotidiano. Diante dos olhos tristes da mulher que não existe além da própria insensatez a cidade se alvoroça e tudo se coça e se roça.

A mulher, vestida de outono-inverno, chora sua tristeza pelos amplos espaços de uma cidade deserta. Ao contrário de prédios, lacunas. No lugar de ruas, leitos. Ao invés de céu, uma neblina que cobre tudo. É por esse cenário que caminha, com passos que mais parecem laços de presente, a mulher ausente. Como são belos e tristes seus passos de dançarina, rodopiando entre notas e respostas de amores sem fim. Seu corpo pálido, imerso na penumbra do meu verso, destoa da boca que soa, herda e vibra todo carmim que há e pode haver nessa terra.

Pare e ponha-se a adorar a mulher cujo corpo é a própria manjedoura da tristeza. Ao contrário de repulsa, traz uma atração de beleza e uma sensação de conforto porque, no fundo, somos tristes também. Tristes de um amor sem remédio, que ama mais e mais sem nunca alcançar um estado de paz. E o triste só faz crescer e crescer dentro e fora da gente como essa mulher que quando se espicha intimida até a lua, que a milhares de pés flutua. Por mais que o vento lhe tire as roupas, essa mulher jamais estará nua, pois haverá sempre uma camada de aflição ou de lamento cobrindo sua pele.

Cuidado! Atente-se para essa mulher, dama de destempero, que de tanto se alimentar de dramas e tramas e dissabores fez de seu corpo um viveiro de dores, onde amores são flores de meia estação sempre despetaladas em pétalas da incompletude e da imperfeição.


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