Daniel Campos

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20/12/2013 - Vírgula

Drummond tinha uma pedra no meio do caminho. Os finais felizes das histórias que ficaram para trás tinham um ponto. E eu, poeta que sou, tenho uma vírgula. Amanhã? Não sei o que serei amanhã, depois de amanhã, depois de depois de amanhã. Só sei que serei algo de amor. Certo ou errado, serei sentimento. Não há como ser o contrário. Não há como negar o que sinto. Com toda licença poética que me cabe, serei, durante e depois da vírgula um sonhador, aliás, sempre o fui. Sou feito de sonho.

Definitivamente, não gosto de ponto final. Passei a não gostar de três pontinhos. Exclamações e interrogações nem sempre dão direito a mais alguma coisa. Portanto, é melhor ficar com a vírgula, que até esteticamente falando tem lá sua poesia. E que eu possa balançar nesta vírgula, voltar a ser criança. E olhando bem, a vírgula lembra um anzol, e há uma lua de peixes a ser fisgada a cada noite que se anuncia. Além disso, a vírgula é sutil a ponto de levar o destino a tropeçar nela embaralhando seus planos.

De vírgula em vírgula, o escritor realiza um romance. A vírgula tem aquele quê de não se saber, nunca sabem se ela está ou não no lugar que deveria estar. A vírgula pode ser pulada facilmente por aqueles que criam ovelhas e ignorada pelos que preferem criar expectativas. A vírgula é aquele muro baixinho superado por apaixonados de cidadezinhas. A vírgula é o movimento contínuo mesmo quando tem espírito de pausa. Mesmo incompreendida, a vírgula é o suspiro necessário entre uma e outra batida de um coração.


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