16/09/2015 - Virando do avesso
Toma minha boca como sua e sai pela rua comemorando o fato de ter colocado entre eu e o tempo o seu retrato. Ouça balbuciar ainda em seus lábios, mesmo que distante de mim, a minha última palavra, já rouca, pedindo para você ficar mesmo sabendo que você não é de atender pedidos. Tropeça nos gatos vadios. É iluminado pelos faróis bêbados dos carros. Ganha cantadas baratas. E mesmo assim vai caminhando para longe de quem nunca lhe foi nada além de uma boca cheia de palavras sem sentido. Nunca entendeu um poema que foi dito aos seus ouvidos ou escritos em suas costas. No começo eu a rejeitei. E depois eu me neguei. E pior, acostumei a me negar para continuar lhe querendo. Comemora em outros copos o fato de ter feito desse homem sem saudade um copo vazio cheio de lembranças.
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