18/03/2016 - Violão arredio
O violão está num canto esquecido, perdido em canções silenciosas. Só escapa uma ou outra nota quando o vento vibra as cordas que mais parecem cobras espichadas ao sol, sem intenção de bote. Inofensiva e decorativa, assim vai aquela peça de madeira entalhada para cantar. O meu violão caipira, do interior do interior, se avexa com a cidade grande e tem saudade do mato. Queria ter sido violão pantaneiro, mas acabou num canto do quarto de um desafinado. Pobre violão que não é tocado, que não é abraçado, que não é incorporado ao corpo do seu mestre. Talvez fosse melhor entregá-lo à correnteza para ele escolher o seu dono rio abaixo. Suas seis cordas não conversam entre si. Suas casas vão ficando cada vez mais longe uma das outras. Suas curvas vão pegando poeira e o silêncio lhe dá uma canseira. Parece que chora um choro quieto, de inutilidade, de frustração, de descriação. Por essas e outras, maltratado naquilo que nasceu para ser, mais dia menos dia ele irá num pé de vento ou nas mãos de uma mulher que ao contrário do meu coração prefira fugir com meu violão.
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