Daniel Campos

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Vatinga, meus aplausos

Que este artigo não tarde os meus aplausos. Não pensem que eu parabenizo os moradores da Vatinga por terem "ganhado" uma cadeia no quintal de casa. Faço-o pelos abalos que causaram às estruturas da política local. Adiantaram o trabalho dos carunchos.

Fez-se a vez de um povo que dificilmente alguém escuta. Um povo desprezado e que por ironia da vida, sustenta o nosso país. Falam em indústrias, mas o que move o país é a agricultura. Envergonhar-se da terra, tratá-la mal, são gestos que prefiro nem comentar. Para os que acham que cultivar a terra é coisa de país subdesenvolvido, vale lembrar que a França ganhou o título de celeiro europeu. Subdesenvolvidos são aqueles que não se preocupam com a vida que surge da terra, com os calos das mãos dos agricultores. Para a maioria dos políticos, que nada fazem pelo povo durante o mandato, a terra só serve para erguer construções de concreto, estas, um mostruário eleitoreiro barato.

É preciso fazer com que os governantes entendam que a zona rural faz parte da cidade. Se o leitor achar que exagero nas críticas, basta pegar o carro, um fim de semana qualquer, e passear pelas estradas rurais. Um aviso, devido à qualidade destas, é melhor ir de trator.

Os agricultores, esquecidos, calam-se. Um povo condicionado a aceitar. Cria-se, então, a imagem do agricultor ingênuo, passivo, caipira. Não invento, é fato. O nosso próprio presidente já nos chamou de caipiras. Coincidência ou não, o partido do presidente é o PSDB. O partido dos tucanos. PSDB. Este partido lhe lembra alguma coisa, leitor?

É com esse olhar que cumprimento o povo da Vatinga. Um povo que desfez a imagem de "bobo" atribuída aos agricultores. Sitiantes que lutaram, fizeram barulho, invadiram a cidade com tratores como se passassem por cima dos que acham que tudo acontece conforme as próprias vontades. Enquanto muitos se escondem, Vatinga não teve medo de mostrar o rosto. É disso que Mogi-Mirim, São Paulo, o Brasil, em si, precisa. Que mostremos a nossa cara e que façamos com que nos escutem nas ruas ou no cenário de época da Câmara. Que não ajoelhemos em espinhos enquanto nadam em mares de rosas.

Embora a votação da Câmara foi favorável à instalação do Centro de Ressocialização, Vatinga não perdeu. Talvez a batalha nem tenha terminado. Por um momento, mesmo numa luta por interesses particulares, os sitiantes foram heróis. Heróis com causa. Heróis que fizeram valer o respeito pelo povo da terra. E além do mais, puderam conhecer e nos fazer conhecer um pouco melhor os nossos políticos. Aqueles que decidem por "nós". Fica cada vez mais clara a tese de Cristovam Buarque, ex-governador de Brasília, de que no Brasil há uma política de corporações. Defendem os grandes fazendeiros, os banqueiros, os religiosos, os industriais, os esportistas... É difícil encontrar alguém que defenda o povo.

Vatinga, meus aplausos, meus agradecimentos. É de causar orgulho a coragem em mostrar que o sítio não é feito por um bando de caipiras que se vende por dentaduras na época da eleição. E se, de fato, for construído o CR, que os moradores cobrem, dos políticos que o aprovaram, as maravilhas que falaram sobre o projeto. Por isso, vos digo: a história não acabou. O nome Vatinga não vai sair tão cedo da cabeça dos nossos políticos.

Engraçado, depois de tanto descaso do governo com o campo, começo a notar a falta de algo nos céus da zona rural. Faltam pássaros. A cada dia, a cada ato do governo, são mais raros os pássaros. Quando o leitor estiver cercado por uma paisagem rural, preste atenção, será quase um milagre, se vier a encontrar, por exemplo, um tucano.

Observação do autor: Texto entregue pelos moradores de Vatinga ao então governador de São Paulo Geraldo Alckmin.


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