12/07/2008 - Um sopro de luz chamado Halley
Com os olhares lançados ao vento quase agostino, velejo pelos quadriláteros do céu de inverno. Nesta época do ano, o manto negro que cobre a noite é mais espesso. Entre uma estrela tímida ali, uma vaidosa lá e uma outra perdida acolá, traço as linhas de constelações famosas e me pergunto pelo cometa de Halley. Foi esse cometa que trouxe a minha vida a idéia de finitude, de morte, de efêmero. Pudera, ele só passa sob nossos céus a cada 76 anos. Privilegiados os que conseguem vê-lo por duas vezes.
Lembro como se fosse hoje. Um alvoroço lá em casa. Meus pais no quintal. O cachorro latindo. Eu tinha por volta de seis anos de idade. Grandioso, era uma bola incandescente deslizando pelos véus da noite. Brilhoso como ele só. Era imponente, tinha cabelos longos coloridos em chamas. Foi lento e rápido ao mesmo tempo. O binóculo de meu pai nem precisou ser utilizado. Era visível à nudez de nossos olhos.
Ah! Por onde anda esse cometa que brinca de fazer círculos pelo universo afora desde muitos anos antes de Cristo. Imagine só, esperar mais de 70 anos para vê-lo outra vez. Talvez eu parta antes desse reencontro. Mas quando ele voltar, se eu não estiver mais aqui, vai dizer para as minhas filhas que a vida, por maior que seja, é tão breve quanto um sopro de luz. Uma lição interplanetária que eu nunca esqueci.
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