23/07/2008 - Um funeral a la Dercy
Tão aplaudida quão incompreendida, Dercy Gonçalves foi um caso à parte na história da humanidade. Haveria muito a escrever sobre seus mais de cem anos. No entanto, peço licença para não falar da sua vida. Quero discorrer sobre sua morte. É difícil de acreditar, mas o corpo da atriz foi enterrado em pé em um cemitério no interior do Rio de Janeiro com direito a Hino Nacional, muitos flashs e fãs caracterizados no melhor estilo da comediante. Depois de seresta, missa e procissão, ao som da bateria da escola de samba Viradouro, Dercy foi enterrada na posição vertical, no mausoléu que fez questão de construir, como forma de mostrar que continua viva.
Fui pesquisar e não encontrei nenhuma civilização antiga que enterrasse os mortos em pé como forma de ritual. Só os japoneses aderiram essa moda há algumas décadas para economizar espaço físico. A Austrália vai começar a fazer o mesmo por questão de economia. Também teve um deputado estadual do Piauí que foi enterrado desta forma porque nem mesmo depois de morto queria se curvar aos outros. No mais, a maioria quer ser enterrada na horizontal mesmo, ao pé de uma grande árvore.
Mas Dercy revolucionou mais uma vez e fundou um novo conceito de sepultamento. A alegria dançou com a tristeza e a polêmica imperou mais uma vez no reino daquela que jamais aceitou o tédio. Pudera, o desejo de viver, de trabalhar, de provocar a vida foi tanto em sua longa existência que ela não poderia simplesmente se deitar e descansar em paz. A verdade é que se alguém encontrar com Dercy andando pelas ruas de Santa Maria Madalena pode saber que a comediante não agüentou apenas ficar em pé e teve que sair para dar uma voltinha.
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